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terça-feira, 24 de novembro de 2009

DIÁLOGO

A escritura:

Somos pássaros voando pela imensidão da liberdade? Ou estamos enjaulados assistindo a vida por uma janela? E se ela, a liberdade, nos fosse enfim dada, a viveríamos em toda sua plenitude, ou a jogaríamos fora sob o pretexto da escolha? Nunca há o tal momento de saber o que fazer. Morrer heroicamente por uma causa ou viver humildemente por ela? Nunca provar o desamor do canto, ou o canto é só de amor? Não quero deixar o posto de lenda, mas também nem quero virar lenda...

Poderia eu cantar a vida inteira? Não sei se isso me seria inteiramente agradável, mas escrever eu escreveria. E descreveria cada segundo desde o pôr-do-sol até o amanhecer. Seria capaz até, tamanha presunção, de envolver o mundo com palavras apenas no ínfimo período que antecede o amanhecer. E isso não seria nada extenuante, de contrário eu o faria embebido de prazer.

Bebida me extenuaria de prazer? Cansei de buscar salvação em goles de intragáveis coquetéis de felicidade. Tudo enquanto brincar de sombras me soa perfeitamente normal e aleluias ecoam por toda a minha sala. Um palco perfeito pra brincar de ser feliz e me fazer as perguntas que nunca me porei a responder. Sou feito de perguntas, enfim, alguém se arrisca a responder?

Carlos César.

A reescritura à guisa de resposta.

Somos sim pássaros voando pela imensidão da liberdade, mas nossa medida de imensidão se limita ao espaço da jaula, não conhecemos outro, o que nos leva a assistir a vida por janelas construídas pelo nosso olhar, sempre menor que o horizonte. Essa é a liberdade que nos é dada e não vivemos com plenitude, pois ela veio acompanhada da grande e amarga responsabilidade, motivadora de nossas escolhas. Sempre há o tal momento de saber o que fazer, mas o que queremos fazer é que nem sempre é apropriado ao tal momento. Já nem somos tão heróicos, porque perdemos nossas causas, elas se confundem com tantas coisas que criamos e tornamos necessárias à sobrevivência, que já não sabemos muito bem como é a humildade. Já nem há mais canto e o lamento do desamor tomou conta das ruas, invadindo a criação humana, que se esqueceu da arte para reproduzir a feiúra do cotidiano. Os mitos já não vivem no imaginário coletivo, mas talvez sobrevivam as lendas, se conseguirmos salvar a esperança...

Pude cantar sim, mas me atraiu mais escrever as melodias nas pautas, e suguei cada segundo, do pôr-do-sol ao amanhecer, tentando resgatar a beleza para além de toda miséria humana. Para transformar a realidade eu também seria capaz até de descrever o mundo com palavras, reconstruindo os sentidos e significados das coisas. E isso não seria nada extenuante, ao contrário, eu o faria embebida pelo prazer da renovação.

Bebida não me extenuou de prazer. Busquei a salvação em goles de intragáveis coquetéis de felicidade, de poder efêmero e que deixavam um travo na boca. Também brinquei de sombras e achei normal que as aleluias ecoassem pela minha sala anunciando a primavera, mas seu vôo era tão ligeiro e sua vida passageira. Mal as sentia, perdiam as asas etéreas, desfolhadas no tapete, destruindo meu palco perfeito pra brincar de ser feliz e, assim, fui obrigada a buscar respostas, embora temesse perguntar. Mas tudo me levava buscar...e me tornei plena de perguntas, que há muito tempo tento, sem sucesso, responder.

Dirce.

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