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domingo, 6 de março de 2011

PAI

( esta fotografia foi copiada do site da cidade de Santo Antonio da Platina, que hoje já foi modificado. Não sei quem é o autor da fotografia, por isso não pude citá-lo).

Pai, é a Platina, eu sei que você se lembra bem.
A mesma rua que a foto extraiu ao tempo
A esquina é conhecida, para o bem e para o mal.
Foi sua vida, foi sua morte também.
As bocas malditas que hão de apodrecer no inferno
disseram que fomos nós,
Suas filhas!
Mal sabem que fomos, cada uma e todas,
os motivos de sua vida.
Aí foi sua via dolorosa.
A nossa também.
Mas era difícil nos abater
Se estávamos juntos.

Sonhamos juntos os mesmos sonhos,
Dialogamos feito amigos,
Bebemos vinhos festivos,
Cervejas amargas,
Cantamos e trabalhamos
comemorando a vida.
Juntos sempre,
na alegria e na tristeza.
Unidos como poucos pais e poucos filhos.
Esperamos a mesma esperança,
que um dia se realizou
na chegada do oitavo de nós.
Ele veio pra apoiar sua cabeça
No último minuto e pra ficar conosco,
Presente como você sempre esteve,
E como o presente que foi e que é,
pra você e pra nós.

A máquina que parou o tempo
certamente é uma Kodak antiga.
Não dá para saber se o panorama é da janela
ou se é o enquadramento da velha máquina.
A rua ainda é a mesma e eu volto a ter cinco anos.
Saio de casa de mansinho, gosto das ruas, gosto da cidade.
O cheiro de terra branca, arenosa, logo depois da chuva, é
uma tentação e tanto.
Nem sei se vou com pés descalços, nem sei se estou vestida...
eu tinha o hábito de fugir de casa só de calcinhas.
Criança é criança...
A gente vê o mundo, não sabe das convenções,
E o mundo é bonito de se ver!
A cidade era assim, que nem eu... criança.
Dos meus pequenos olhos, na minha baixa estatura, tudo era grande e lindo.
A loja era um mundo escuro, cheio de gente estranha.
A vitrine interna era o grande sonho de consumo,.
Bonitos tecidos pra um vestido, véus para noivas...
Um chapéu Ramenzoni pro avô Pedro,
Um rádio...imenso, uma caixa de madeira falante.
No outro lado da rua o “ Bar do Ponto”... a rodoviária cheia de jardineiras.
- “ O pai taí”?
- “ Quem é seu pai menina?”
- É filha do “ Nardo” , ali dos Retalhos.
- Ce ta fugindo menina” ?
- To não, o pai e a mãe vão pra Bocaína e eu quero ir também!
- O tio vai casá moço” !
- Ali minha mãe !
- Manhêee!
Lembra seu espanto ?
E a jardineira partiu... eu só de calcinhas e pra seu desgosto, de pés no chão.
Ah pai, mais a trouxinha de roupa eu lembrei de fazer!

A foto é mágica!
Ela volta o tempo e você volta também.
Eu tenho novamente cinco anos
E fico na expectativa de que se eu olhar bastante
Você sairá na porta da Casa dos Retalhos
pra me ver.
Não ligue se eu estiver só de calcinhas e pés descalços
Ainda sou criança e nem sei se quero crescer!.

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