Translate

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Maria Bárbara (Poema para vovó)

Maria Bárbara, Maria.
Que foi rendeira.
Que foi prendada.
Que foi temida.
Que foi amada.

Transpôs barrancos.
Tocou boiada.
Foi rezadeira.
Foi malcriada.
Falou verdades.
Perdeu vaidades.

Maria Bárbara, Maria
Dona da roça.
Que fez pirraça.
Puxou carroça.
Se fez doceira.
Foi cozinheira.
Foi mãe-menina.
Foi quituteira.

Teceu bonecas,
Contou histórias.
Coisas de Minas...
Essas meninas...

Maria Bárbara, Maria.
Do alambique.
Da rapadura.
Doce de tacho,
Lingüiça pura.
Angu salgado,
Sopa de osso,
Jiló, quiabo e tremoço.

Manhãs de domingo
Na estrada...
Sapatos aos ombros,
Pés na lama.
E a noite, cansada,
A luz da lamparina
E a cama.

Maria Bárbara, Maria
Tecia esperanças.
Articulava idéias.
Elaborava planos.
Lutava, vencia.

Manhãs de segunda-feira,
Mãos no riacho,
E as roupas...
Bati-as nas pedras,
Enquanto a água
Batia nos joelhos.

Maria Bárbara, Maria
Sobrolho franzido.
Nariz empinado.
Olhar perdido.
Lábios crispados.

As faces loiras,
Neta de negros.
Inexplicáveis segredos
Deste povo valente.
Que vem de Minas.
Que vem do Norte,
Atrás dos sonhos,
Tentar a sorte.

Maria Bárbara, Maria
Pedaço humilde
Deste torrão.
Nasceu da terra,
Voltou ao chão.
Deixou saudades.
Deixou herdeiras.
Nesta labuta
Bem brasileira,
Mulheres fortes.
Do Sul ao Norte!

Dirce B. Salvadori
1997.

Nenhum comentário: