tag:blogger.com,1999:blog-29881964496139547492024-02-07T14:01:58.998-08:00PALAVRAS (dibs)Este é um espaço para a divulgação de textos da autora.Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.comBlogger32125tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-3425569522226922742022-01-21T19:34:00.010-08:002022-01-21T20:01:39.173-08:00 O REI DA VELA: CANIBALISMO CULTURAL EM TRÊS MOMENTOS DA HISTÓRIA DO BRASIL <p><span style="font-size: medium;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: large; font-weight: bold;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>Barbara Salvadori Heritage (University of Missouri) </b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>Dirce Bortotti Salvadori (UNESPAR)</b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: large;"><o:p><b> </b></o:p></span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p>
<p style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black;">RESUMO:</span></b><span style="color: black;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> de
Oswald de Andrade é um marco significativo de dois momentos da história
Brasileira: o Modernismo e o Regime Militar. Escrita após a Semana da Arte
Moderna, em 1933 (e publicada em 1937), ela representa a culminação de
sentimentos de insatisfação e questões mal resolvidas relacionadas à República
Velha, a busca por uma identidade nacional, e o desenvolvimento do Capitalismo
no Brasil. No entanto, a peça não seria produzida até 1967, pelo diretor Zé
Celso e seu grupo, o Oficina, quando as Forças Armadas já haviam derrubado o
governo do presidente recém-eleito, João Goulart, e criado uma nova e
restritiva constituição, que suprimia a liberdade de expressão e imprensa no
Brasil. Essa produção se tornou, então, um símbolo de resistência cultural
contra a ditadura militar. O ensaio proposto examina <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> e seu significado sociocultural relacionado aos dois
momentos históricos já mencionados. Além disso, investiga num terceiro momento,
49 anos após sua icônica produção, a representatividade da obra em relação ao
conturbado período atual e suas semelhanças e diferenças com os contextos
históricos em que foi escrita e produzida. Ou seja, examina a evolução e
relevância da peça nesses três momentos da história Brasileira. <o:p></o:p></span></span></p>
<p style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="color: black; font-size: medium; mso-ansi-language: EN-US;">Palavras-chave: teatro, crítica social, identidade
nacional.<o:p></o:p></span></b></p>
<p style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="color: black; font-size: medium; mso-ansi-language: EN-US;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p align="center" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; margin: 6pt 0cm 0cm; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">O REI DA VELA: CULTURAL CANNIBALISM IN THREE MOMENTS OF BRAZILIAN
HISTORY<o:p></o:p></span></b></p>
<p style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; margin: 6pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US;">ABSTRACT:</span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US;"> Oswald de Andrade’s play <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> (The Candle King) is a significant marker regarding
two moments within Brazilian history: Modernism and the Military Regime.
Written after the Modern Art Week, in 1933 (and published in 1937), it
represents the culmination of feelings of dissatisfaction and unsolved issues
related to the Old Republic (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">República
Velha</i>, also known as the “First Brazilian Republic”), the search for a
national identity, and the development of Capitalism in Brazil. The play was
not produced until 1967, by director Zé Celso and his troupe, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Oficina </i>– and by then the Armed Forces
had seized the government of new democratically elect president, João Goulart,
(with support from the U.S. government) and created a new, restrictive
constitution, suppressing Brazilian people’s freedom of speech, press, and
expression. The production became, then, a symbol of cultural resistance
against the military dictatorship. The following essay examines <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela </i>and its socio-cultural
meaning in relation to these historical moments. In addition, it considers, 49
years after its iconic production, the play’s representativeness regarding the
current period and its potential similarities and/or differences concerning the
historical contexts in which it was written and produced. That is, it examines
its evolution and relevance within these three moments of Brazilian history.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-ansi-language: EN-US;">Keywords: Brazilian theatre, social criticism, national identity. <o:p></o:p></span></b></p>
<p style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="color: black; mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-size: x-large;">Introdução</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></b></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“</span><span lang="EN-US" style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Those who cannot remember the past
are condemned to repeat it.”<span class="apple-converted-space"> (George
Santayana)</span></span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-ansi-language: EN-US;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">A ideia manifestada na epígrafe
decorre da constatação que nos levou a essa pesquisa. Não fora a leitura
anterior de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, de Oswald
de Andrade, e o conhecimento do contexto no qual foi escrita, não teríamos nos dado
conta do quanto o processo histórico pode nos surpreender por repetições
cíclicas de situações e condições que, apesar de distanciadas no tempo,
aproximam-se por semelhanças de contexto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Foi assim que a realidade social,
econômica e política do país, a partir de 2013, culminando com o impeachment de
uma presidente da República eleita, em 2016, nos trouxe à memória o texto e
contexto da produção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>,
bem como seu conteúdo, prenhe de representação do Brasil de ontem e de hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Criada (1933) e publicada (1937) sob a
influência de um contexto nacional sócio-político e econômico de movimento e
transformações, <i>O Rei da Vela</i> só seria encenada pela primeira vez
em 1967, três anos após a implantação da Ditadura Civil-Militar, pelo Teatro Oficina,
sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. O texto manifesta um Oswald de
tendências esquerdistas e aponta as contradições sociais da época e a
necessidade de uma revolução social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">O que realmente nos chamou a
atenção é o fato de que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>
foi produzido em um contexto sócio-político e econômico de contornos e aspectos
muito semelhantes ao vivido atualmente, em 2016, assim como a sua primeira
encenação, pelo Teatro Oficina, também se deu em um contexto semelhante ao
atual e ao de sua escritura. José Celso Martinez foi o primeiro encenar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, que foi escrita durante a
primeira fase da ditadura de Getúlio Vargas. Ele o fez, em 1967, em plena ditadura
Militar, trinta e quatro anos após a sua escritura. Quarenta e nove anos depois
dessa primeira encenação e oitenta e três anos após a sua escritura, a indagação
que nos instiga sobre como seria sua interpretação hodiernamente, se dá exatamente
pela percepção de que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>
continua refletindo, como um espelho, a imagem da sociedade brasileira atual,
com todas as suas complexidades, assim como foi na sua escritura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2">Oswald foi um homem de</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">vida intensa (1890 –
1954). Filho único de</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">família abastada estudou e</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">“pôde ainda jovem viajar para a Europa (1912), onde entrou em contato
com a boêmia estudantil de Paris e conheceu o futurismo ítalo-francês. Voltando
a São Paulo fez jornalismo literário” (BOSI, 1995, p. 355).</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Teve sete esposas;</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Kamiá, Carmem Lídia,
Tarsila do Amaral,</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Pagu, Pilar</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Ferrer, Julieta Barbosa</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Guerini</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">e Maria Antonieta d”Alkmin. Relacionou-se com um grande núcleo de
artistas de sua época, de quem colheu influências e influenciou. </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="s10" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 84.75pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 84.75pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span class="s9"><span>[...] Passa a ser o grande animador do grupo
modernista, [...] e articula com os demais a</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s22"><span>Semana</span></span><span class="s9"><span>. Paralelamente trabalha os romances da</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>”Trilogia do Exílio”. O período de
23-30 é marcado por sua melhor produção propriamente modernista, no romance, na
poesia e na divulgação de programas estéticos nos</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>Manifestos</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s22"><span>Pau-Brasil</span></span><span class="s9"><span>, de 24, e</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s22"><span>Antropofágico</span></span><span class="s9"><span>, de 28. É também pontuado por viagens
à Europa que lhe dão oportunidade para conhecer melhor as vanguardas
surrealistas da</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>França. [...] (BOSI, 1995, p. 355).<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="s10" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 84.75pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 84.75pt; text-align: justify;"><span class="s9" style="font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="s20" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span class="s9"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em 1922, Oswald fora
um dos promotores da Semana da Arte Moderna e era o maior prosélito da ideia
que consubstanciava a proposta modernista. </span>A <span class="s18"><span style="background: white;">Semana da Arte Moderna, influenciada pelos movimentos
que ocorriam em Europa, propunha que a cultura nacional sorvesse a arte
estrangeira, mas que dela retirasse apenas elementos apropriados ao
enriquecimento da arte nacional.</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> Era uma proposta
que visava constituir uma arte nacional do Brasil e para o Brasil. Talvez seus
autores não se dessem conta de que já havia uma arte nacional representativa da
brasilidade. Mas era a arte do povo, a arte produzida pela grande massa popular
que preenchia todos os recantos do país, alijada dos bens de consumo da
sociedade urbana e burguesa. </span></span><span class="s9"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s16" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s9">Num país</span><span class="s18"><span style="background: white;"> de maioria analfabeta – e assim era o Brasil das
décadas de 1920/ 1930 - a literatura e as artes em geral se fragmentavam em
duas grandes linhas: a arte popular e a arte erudita. Da arte popular faziam
parte</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">o
folclore, as festas religiosas, o teatro de revista e o artesanato local e
regional, a música sertaneja, o cordel, a santaria, o teatro do circo, o circo,
etc.</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">Da
arte erudita faziam parte a literatura clássica e moderna,</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">os saraus literários,</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">a pintura,</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">a escultura, a arquitetura, a</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">engenharia, a música clássica, a
ópera, etc. Diferentes conteúdos de diferentes universos de vivência. Partindo
destas constatações e do fato de que os autores da proposta</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">modernista brasileira eram
participantes do grupo da cultura erudita, havemos que pensar em que medida o
Modernismo, e mesmo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Semana da Arte
Moderna,</i> atingiu realmente o país na totalidade de sua população.</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><o:p></o:p></span></p>
<p class="s20" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s18"><span style="background: white;">Apontamos
essa questão para nos</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">lembrarmos de</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">que, num país com as dimensões
territoriais do Brasil, as grandes cidades e capitais compõem apenas a
representação de um pequeno segmento da população, pois no período citado,
principalmente, o campo e as cidades e vilas interioranas concentravam um
número maior de população que as áreas urbanas.</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span class="s18"><span style="background: white;">Para que as ideias postas em
circulação nos grandes centros chegassem a afetar a consciência e a mentalidade
dessas populações um longo tempo se passava, principalmente dadas às precárias
condições dos meios de comunicação e difusão do conhecimento da época. </span></span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;">Mas não importa, e
talvez essa não fosse uma preocupação dos modernistas. No entanto, as
referências a este fato são reflexo de nossas indagações e perplexidade diante
da repetição de situações semelhantes em diferentes contextos. <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O ano de 1929 foi um
ano</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">difícil</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">para a economia mundial
e que culminou com o “crack” da Bolsa. No ano seguinte estouraria no Brasil a
Revolução de 1930, que culminou com a ditadura de Getúlio Vargas. Muitas
famílias abastadas foram afetadas por esses processos, e, segundo Bosi,</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Oswald de Andrade
também teve sua situação financeira afetada.</span><span class="apple-converted-space"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="s10" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span class="s9"><span>[...]</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>Dividido entre uma formação anárquico-boêmia e o
espírito de crítica ao capitalismo, que então se conscientizava no país, Oswald
pende para a Esquerda, adere ao Partido Comunista:</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>compõem</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>o romance de</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s9"><span>auto-sarcasmo</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s22"><span>(Serafim Ponte Grande 28-33</span></span><span class="s9"><span>), teatro participante (</span></span><span class="s22"><span>O Rei da vela, 37</span></span><span class="s9"><span>) e lança o Jornal</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s22"><span>O Homem do Povo</span></span><span class="s9"><span>. Desdobramento dessa posição foi sua
tentativa de criar o romance de painel social: os dois volumes de</span></span><span class="apple-converted-space"><span> </span></span><span class="s22"><span>Marco Zero (</span></span><span class="s9"><span>43-45). Afasta-se da militância
política em 1945 [...] (BOSI, </span></span><span class="s2"><span>1995, p. 355).</span></span><span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s10" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2">Por inferência, temos que o claro e
explícito viés ideológico à esquerda é interpretado
preconceituosamente nos países de origem conservadora, seja qual for o regime
político em andamento. Uma comprovação dessa questão pode ser vista e analisada
na História Moderna dos povos, afinal, os procedimentos de resistência sempre
se fizeram sentir, com os países capitalistas reagindo contra o avanço do
socialismo/comunismo no mundo, como foi o caso da Guerra Fria entre os EUA e a
URSS. Assim também o foi com a resistência internacional à tomada de Cuba
pelos revolucionários de Fidel Castro, à China de</span><span class="apple-converted-space"> Mao-Tsé-Tung etc. Capitalismo e
Socialismo/Comunismo sempre foram considerados abordagens opostas da
realidade, tendo o Capitalismo como a abordagem correta e o Socialismo/Comunismo como
a abordagem incorreta. Realmente, isso é histórico, não é fruto de
dissensões individuais; trata-se de uma postura geral canonizada, tal qual a
luta do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>bem contra<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o mal. E de tempos em tempos vemos repetir-se
na História dos homens os levantes opositivos que dividem os povos em duas
grandes categorias: os bons (capitalistas) e os maus
(socialismo/comunistas). Inclusive, podemos afirmar que esse
posicionamento é uma constante no Brasil e estava presente nas décadas de
1920/1930, quando Oswald escreveu o <i>Rei da Vela</i>; esteve presente na
ditadura civil-militar de 1964-1985 e está presente na sociedade brasileira
hodierna e pode ser visto e constatado, principalmente, nas mídias e redes
sociais. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span class="apple-converted-space" style="font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span class="apple-converted-space"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: x-large;">O Rei da Vela, 1933-1937</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s23"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Rei da Vela</i></span><span class="apple-converted-space"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i></span><span class="s2">é um texto que manifesta um posicionamento</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">político em relação a
uma realidade dada. Nele, Oswald elabora a crítica da decadente oligarquia
cafeeira e do processo político-econômico pelo qual passa o país, vivendo uma
fase ditatorial e submetido às regras do</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Imperialismo</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">estrangeiro que tudo
domina. O olhar depositado sobre a realidade para a elaboração da crítica é um
olhar à esquerda, no espectro político. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2">Construindo os sentidos do texto a partir
do processo de figurativização, Oswald se utiliza deste recurso para mostrar,
no espelho, possibilitado pela caracterização dos personagens, a miragem da
decadente oligarquia brasileira. Seus personagens manifestam compreensões que
Oswald parece ter extraído de uma leitura das consciências mais do que uma
leitura das ações reais, num processo de contradições da relação ser-parecer. </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2">Os diálogos estabelecidos entre os diversos
personagens chocam</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">pela crueza das revelações, pois Oswald apresenta ao leitor, nos três
momentos distintos da peça, as relações e vivências de uma família da
tradicional oligarquia cafeeira, em seu processo de decadência econômica. Em
sua tentativa de não submergir na pobreza, promovem um casamento arranjado
entre a filha do patriarca da família e um burguês capitalista, Abelardo I,
industrial das velas e agenciador de empréstimos financeiros pelo processo de
usura, devedor dos norte-americanos, a quem presta contas.</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="s3" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2">O texto apresenta os seguintes personagens
dramáticos:</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Abelardo I, Abelardo II,</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Heloísa de</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Lesbos, Joana conhecida por João dos Divãs, Totó</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Fruta-do-Conde, Coronel</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Belarmino, Dona</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Cesarina, Dona</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Poloquinha, Perdigoto, O
Americano,</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">O
Cliente, O Intelectual Pinote, A</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Secretária;</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">Devedores, Devedoras,</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">O Ponto.</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 26.25pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="s2">A peça divide-se em três Atos:</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2"> O primeiro ato se
passa num escritório de venda de velas e de usura, em São Paulo, no período da
manhã.</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">No
segundo ato entra em cena uma ilha tropical da Baía da Guanabara, no período da
tarde.</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="s2">No terceiro
ato a cena retorna ao escritório e é noite.</span><span class="apple-converted-space"> <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 26.35pt;"><span class="apple-converted-space"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>1º ATO<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 26.35pt;"><span class="apple-converted-space"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span class="apple-converted-space"><span style="font-size: medium;">Em São Paulo.
Escritório de usura de Abelardo e Abelardo. Um retrato de Gioconda. Caixas amontoadas.
Um divã futurista. Uma secretária Luiz CV Um castiçal de latão. Um telefone.
Sinal de alarma. Um mostruário de velas de todos os tamanhos e de todas as
cores. Porta enorme de ferro a direita correndo sobre rodas horizontalmente e
deixando ver o interior de uma grande jaula. O prontuário, peça de gavetas com
os seguintes rótulos: MALANDROS – IMPONTUAIS – PRONTOS – PROTESTADOS. Na outra
divisão: PENHORAS – LIQUIDAÇÕES – SUICÍDIOS – TANGAS. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span class="apple-converted-space"><span style="font-size: medium;">Pela ampla janela
entra o barulho da manhã e sai o barulho das máquinas de escrever da ante-sala.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(p.63)<o:p></o:p></span></span></p>
<p align="center" class="s25" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: center; text-indent: 26.35pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; tab-stops: 14.2pt 1.0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Nesse caso, os valores fundamentais
da narrativa estão presentes nos protagonistas da cena, Abelardo I, o Cliente e
Abelardo II. A denominação de escritório de usura Abelardo & Abelardo
permite a interpretação de que Abelardo I e Abelardo II sejam sócios no
negócio. A cena de entrada do primeiro Ato, com Abelardo I atendendo ao Cliente
com o auxílio de Abelardo II, que vai aos arquivos buscar a pasta do tal
cliente, revela um Abelardo I como o chefe e um Abelardo II caracterizado como
um executor de ordens, algo como um guarda-costas, já que também carrega uma
arma à cintura. A caracterização dada pelo esclarecimento “veste botas e um
completo de domador de feras”, somada à presença da jaula escondida pela porta
de ferro de correr, nos transmite a compreensão de como Abelardo & Abelardo
tratavam seus clientes e seus negócios: dois capitalistas sem pudores, em
defesa do capital e dos lucros. A manipulação é dada pela pobreza do Cliente,
que necessita pagar uma dívida, mas se encontra desempregado. A competência
para satisfazer a necessidade do cliente está posta em Abelardo I, que realiza
a performance própria de seu papel de agiota, que é receber o que lhe é devido,
em primeiro lugar. A presença do arquivo com a denominação das pastas também
permite a compreensão de que o que realmente importa é emprestar e receber. A
necessidade de uma pasta para arquivar SUICÍDIOS e o diálogo de Abelardo I com
o cliente em cena confirma esse entendimento. Assim, o Cliente devedor recebe
uma sanção negativa, com Abelardo I a expulsá-lo do escritório, após a menção à
utilização da lei da usura, por parte do Cliente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="s25" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; tab-stops: 14.2pt 1.0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Além do já dito, há um diálogo que se
configura como metateatral nesta cena, quando <span style="background: white; mso-shading-themecolor: background1;">Abelardo I diz a Abelardo II:</span> “Mas
esta cena basta para nos identificar perante o público. Não preciso mais falar
com nenhum de meus clientes. São todos iguais. Sobretudo não me traga mais pais
que não podem comprar sapatos para os filhos” (p. 78). Aqui o personagem
demonstra conhecer que sua função é representar como age um agiota. E aí ele
subverte a narrativa ao dizer: “Sobretudo não me traga mais pais que não podem
comprar sapatos para os filhos” (p.78). Os sentidos construídos aí remetem à
existência de uma consciência do papel representado e de como este papel de
agiota é visto na realidade. Talvez por esta razão Abelardo I se comporte como
Pilatos, lavando as mãos sobre as consequências sociais de sua ação de
emprestar e receber com juros, por isso não quer saber se para pagá-lo um pai
tenha que deixar de comprar sapatos à filha, ou seja, não quer tornar pior o
papel do agiota que interpreta, mostrando todas as implicações de suas ações na
vida cotidiana das pessoas para as quais empresta. <o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium;">A contextualização do primeiro Ato, presente na narrativa do
personagem Abelardo I, remete à realidade sócio-político-econômica vivida no
período. <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Vale lembrar que em 1929 a
economia cafeeira sofrera as consequências da quebra da Bolsa de Nova Iorque,
que provocou grandes perdas financeiras aos investidores e que deixou sem preço
toda a produção de café, levando à bancarrota os latifundiários, afetando
indiretamente toda a grande massa de trabalhadores do campo e da cidade, com
altíssimo nível desemprego. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na sequência
de 1930 a 1945, o Brasil vivenciou a experiência de uma ditadura, com o advento
da Segunda e da Terceira República – Estado Novo – que marcou o fim da
República Velha. A que foi denominada de Revolução de 1930 teve início com a
deposição do Presidente Washington Luiz, a dissolução do Congresso Nacional, a
revogação da Constituição e o fim da hegemonia das oligarquias que até então
haviam se alternado na política do café-com-leite. Getúlio Vargas, considerada
a liderança da revolução, assumiu o poder ditatorial. Importante apontar os
quinze anos de governo de Getúlio Vargas, pois neste período o país passou por
grandes transformações.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Na sequência dos
diálogos do primeiro Ato, Rogério A. Dinis, considera que: “O campo discursivo
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> (2004), com recorte
do espaço discursivo resultante da correlação entre os objetos discursivos
selecionados, será criado a partir das discriminações feitas com a contribuição
das categorias do materialismo histórico” (2009, p.7). Para Diniz, Oswald de Andrade
parodia em sua narrativa o Manifesto dos Comunistas, no primeiro Ato, na seguinte
narrativa: “Abelardo I não confunda, seu Abelardo! Família é uma coisa
distinta. Prole é de proletariado. A família requer a propriedade e vice-versa.
Quem não tem propriedade deve ter prole. Para trabalhar, os filhos são a
fortuna do pobre...” (ANDRADE, 2004, p.43, apud DINIZ, 2009, p. 7). A
demonstração da paródia consta da apresentação do texto do referido manifesto: “A
bazófia burguesa sobre a família [...] sobre a abençoada correlação de pais e
filhos torna-se ainda mais desagradável à medida que todos os laços familiares
entre os proletários são cortados, pela ação da indústria moderna, e seus
filhos transformados em simples artigos de comércio e instrumentos de trabalho”
(MAX & ENGELS, 2005, p.39 apud DINIZ, 2009, p.7)<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Utilizamos esta
apresentação de Diniz para confirmar, na análise do texto, a utilização que
Oswald faz de sua posição ideológica na construção da narrativa. Embora a peça
apresente os conflitos entre os capitalistas e os descapitalizados, o grande
vilão da história acaba sendo o sistema, em razão do qual os personagens são
manipulados às ações. <o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Importante apontar no
1º Ato o seguinte diálogo:<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p> </o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 148.85pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 148.85pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo I – Diga-me uma
coisa, Seu Abelardo, você é socialista?<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 148.85pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 148.85pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo II – Sou o primeiro
socialista que aparece no Teatro brasileiro.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo I – E o que é que
você quer?<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo II – Sucedê-lo
nessa mesa.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 148.85pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 148.85pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo I – Pelo que vejo o
socialismo nos países atrasados começa logo assim... Entrando num acordo com a
propriedade...<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo II – De fato...
Estamos num país semicolonial...<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo I – Onde a gente
pode ter ideias, mas não é de ferro.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Abelardo II – Sim. Sem
quebrar a tradição. <o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p> </o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Nesse texto talvez
possamos afirmar que Oswald se insere na peça, demonstrando que sua opção
política é provocada pelo contexto, pela ocasião, mas que ele não quebrou seus
vínculos com sua condição anteriormente vivida, de membro da classe hegemônica.
<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;">Toda a primeira parte
do primeiro Ato evidencia as tomadas de posições de Abelardo I em relação à sua
prática de agiotagem, à preocupação com a cobrança de suas “vítimas”, com os
lucros, e a evidência de um próximo casamento por interesse com a filha de um
oligarqua falido. Os diálogos evidenciam que se trata de um casamento por
interesses mútuos: ele quer o brasão, ou seja, a substituição de sua condição
de burguês sem “nome” pela aquisição de um “brasão”, com a figura do brasão
significando aqui nome e poder pelo casamento de interesse: a família descapitalizada
vende a moça e ele, capitalista bem sucedido da nascente indústria nacional, a
compra, apesar do que indica seu nome: Heloísa de Lesbos. <o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; mso-bidi-font-weight: bold;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não podemos deixar de apontar na escolha do
nome dos personagens as referências satíricas de Oswald à célebre História de
Abelardo e Heloísa, famoso casal de amantes da Idade Média, que tiveram seu
amor impedido pela moralidade e convenções da época. Além disso, a denominação “de
Lesbos” configura uma referência à famosa ilha grega, onde a poetisa Safo teceu
poemas de exaltação ao amor por outras mulheres, donde a denominação
lesbianismo à homossexualidade feminina. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O segundo Ato, se passa numa ilha
tropical, na Baía de Guanabara, que Abelardo I comprara para a realização de
seu casamento com Heloísa. Na cena desenvolvida na ilha parasidíaca aparecem os
demais personagens da peça: o Americano, Totó Fruta-de-Conde, D. Poloca, João
dos Divãs, Coronel Belarmino, D. Cesarina, Perdigoto e Heloísa e Abelardo I. Os
diálogos e narrativas desta cena completam o quadro da sociedade retratada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os diálogos livres e francos sobre a
homossexualidade dos filhos do Coronel Belarmino, destoam da época de sua
produção, já que os preconceitos presentes nessa sociedade certamente não lhes
permitiam aceitar e falar com tanta naturalidade sobre as tendências sexuais
dos membros da família. O mesmo ocorre com os diálogos entre Abelardo I e sua
futura sogra, e entre Abelardo I e uma tia de Heloísa. Confirma nossa percepção
o texto de José Eduardo Vedramini, que aponta, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela, </i>elementos metateatrais e de metalinguagem como
instrumentais em relação aos “objetivos declaradamente críticos” do autor: “O
Rei da Vela vale-se de personagens alegóricas, com os conflitos de ideias
antecedendo os conflitos emocionais entre as personagens. A sátira virulenta e dessacralização
de valores, constantes em toda a peça, nascem do universo teatral e retornam a
ele, num jogo quase totalmente fechado. (p. 26)”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">A peça chega ao seu termo no mesmo
ambiente de seu início, só que já não é manhã, é noite e Abelardo I discute com
Heloísa as consequências de sua inesperada falência, decorrente de um roubo. O
epílogo tem as características dos dramas, com Abelardo I optando pelo suicídio
para não acabar seus dias na prisão. No final da cena o ladrão se revela, é
Abelardo II, que além de assumir os negócios, como herdeiro de Abelardo I,
assume também o casamento com Heloísa.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Nessa cena, Abelardo I doa a Heloísa à capacidade de prosseguir na sua
história de salvar-se pelo casamento. As contradições da relação ser-parecer
estão todas expostas, e finalmente Abelardo I morre, enquanto Heloísa assume
seu novo Abelardo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Nos diálogos do terceiro Ato
concretiza-se um debate entre as duas ideologias que subjazem parodiadas na
peça: capitalismo e socialismo/comunismo.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ao tornar-se o algoz de Abelardo I, Abelardo II atua como quem assume a
função do agiota capitalista e a sua atitude ao chutar o radio quando esse
transmite da Rússia, configura-se como uma negação de suas propaladas
tendências socialistas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">A peça de Oswald representou, como
nenhuma outra narrativa literária do período, a realidade do tempo em que foi
produzida, tecendo duras críticas, a partir da satirização, à sociedade de seu
tempo, o que permite que lhe atribuamos o sentido de renovação mesmo na
perspectiva do Modernismo que então se apregoava. No contexto real do
Modernismo, significou também uma opção pessoal do autor por um lado, uma
perspectiva ideológica, na perspectiva política em geral, entre membros da
Semana da Arte Moderna. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Toda transformação política de um
Estado ou país conta sempre com pelo menos duas faces das interpretações
possíveis. E assim foi na década de 1930 quando, de entre os membros da Semana
da Arte Moderna, saíram os correligionários das duas maiores tendências
políticas que têm dividido o país desde então: de um lado o apoio político à
ditadura, representada pela AIB (Ação Integralista Brasileira), Partido Da Ação
Integralista, que foi criado por Plínio Salgado – um dos participantes da Semana
da Arte Moderna de 1922, anticomunista, antiliberal e o primeiro partido nacional
de massa. Do outro lado, e em contrapartida a AIB, surgiu a ANL (Aliança
Nacional Libertadora) de tendência esquerdista e de oposição ao governo
ditatorial, da qual participou Oswald de Andrade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No Brasil, em reação ao crescimento
da AIB, formaram-se pequenas frentes antifascistas que comportavam
comunistas, socialistas, e antigos participantes do movimento tenentista
(tenentes) insatisfeitos com a aproximação entre o governo de Getúlio
Vargas e as oligarquias afastadas do poder em 1930, e que se reuniam na
ANL. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Getúlio Vargas contemporizou com as
duas forças políticas antagônicas, tendendo a apoiar o Integralismo,
principalmente na sua campanha contra o comunismo representado pela ANL. Porém,
em novembro de 1935, com o apoio de Luiz Carlos Prestes, a ANL tenta a
derrubada do poder com o que ficou denominado de Intentona Comunista. Getúlio
caçou os comunistas e para isso teve o auxílio da AIB. Entretanto, também a AIB
foi colocada na ilegalidade, em 1938, por ocasião do levante Integralista, outra
tentativa de depor o governo Vargas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">No interregno de 1945 a 1964
aconteceram os procedimentos de redemocratização do país, num período que foi
marcado por grandes transformações. Nesta fase governaram o país: Gaspar Dutra,
Getúlio Vargas, agora eleito pelo voto direto do povo brasileiro; João Café
Filho, Juscelino <span style="letter-spacing: 0.1pt;">Kubitschek, Jânio da Silva
Quadros e João Goulart. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; letter-spacing: 0.1pt;">As tendências
esquerdistas deste último presidente assustaram algumas camadas da população
brasileira e, novamente, em 1964, o país se via sob uma ditadura e cindido em
duas facções ideológicas: de um lado os que apoiavam a ditadura militar,
representado por membros da sociedade civil e pela burguesia, de outro os que
se contrapunham ao regime ditatorial, com a organização e ação de diversos
grupos: PC do B, MR8, Ligas Camponesas, grupos de jovens ligados às
Universidades, à Igreja Católica, padres adeptos do Concílio Vaticano II, etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; letter-spacing: 0.1pt;">E foi nesse
contexto ditatorial que José Celso Martinez Corrêa resolveu fazer a primeira
montagem de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, sem, no
entanto, preocupar-se em fazer dela uma peça autoral em relação a Oswald de Andrade
– mesmo utilizando o conceito oswaldiano de antropofagia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>José Celso levou à cena uma interpretação sua
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: x-large;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; letter-spacing: 0.1pt;"><o:p> </o:p></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; letter-spacing: 0.1pt;">O Rei da Vela, 1967</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; letter-spacing: 0.1pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 35.4pt;">O historiador de teatro Thomas
Postlewait, na sua perspectiva de análise histórica, aponta questões interessantes
sobre a descrição e interpretação das relações entre eventos históricos e seus
possíveis contextos. Segundo ele, o desafio está em “especificar não só as
características que definem qualquer contexto, mas também os atributos causais
que contribuem para o fazer do evento” (2007, p. 198). Com essa tarefa em
mente, Postlewait considera como “historiadores de teatro usam o conceito de</span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; mso-bidi-font-style: normal; text-indent: 35.4pt;"> política </i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 35.4pt;">(grifo do autor) para definir
e explicar as relações entre um evento teatral e suas condições” (p. 198). Ele
argumenta que política pode ser entendida de uma maneira mais complexa do que a
simples dicotomia “contenção ou contestação, subserviência ou subversão” (p.
204-5): “Política, definida como tipos de ações, atitudes, eventos, e ideias,
pode ser atribuída à um número de lugares ou facetas” do evento teatral (p. 208).
Consequentemente, ele propõe que as “dimensões políticas” de um dado evento teatral
podem existir em diferentes “locais contextuais”, sendo alguns deles: script e
texto, intenção dos indivíduos ou agentes que produzem o texto para
performance, tradições de drama e teatro vigentes, campanhas nacionalistas e
religiosas, teatro como organização, discursos políticos e retóricos da época,
ideologias culturais, e recepção do trabalho, entre outros elementos (p. 208).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Usando esse entendimento para
nortear nossa análise de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>
– e já tendo considerado o texto, as intenções de Oswald, e a ideologia
cultural durante o Modernismo – passemos, então, às considerações relacionadas
a montagem icônica da peça, pelo grupo Oficina de José Celso Martinez Corrêa (Zé
Celso), em 1967.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">O Brasil da década de 60 se debatia
com muitos dos mesmos problemas e questões vividos durante o período no qual <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> foi escrito. O crescente
envolvimento de capital estrangeiro no país provocou uma mudança na mentalidade
em direção a um modelo socialista e anti-imperialista e influenciou o governo
de João Goulart. O golpe militar realizado pela direita brasileira com o apoio
dos Estados Unidos foi uma resposta contra essa mudança de pensamento. É nesse
cenário político de cerceamento e controle militar que a montagem de Zé Celso
acontece. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Não podemos deixar de apontar que
ao golpe militar sucedeu-se novamente uma ditadura, cujas características
repressoras foram aos poucos se acentuando e incidindo sobre todas as formas de
comunicação, atingindo as artes em geral, como a música, o teatro, a
literatura, etc., bem como o controle ideológico, cindindo novamente o país em
pelo menos dois grandes segmentos: os grupos políticos de apoio à ditadura
(direita política) e os grupos de contestação (esquerda política). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">De 1964 a 1967, a censura e a repressão
ainda eram possíveis de serem disfarçadas sob outras denominações, mas, a
partir de dezembro de 1968, com a edição do Ato Institucional número cinco (AI
5) isso se tornou impossível, e o país entrou em processo de franca decadência
dos direitos institucionais da pessoa e dos direitos humanos, como a prisão e
perseguição de pessoas cujas tendências ideológicas apontassem à esquerda no
espectro político, bem como o desaparecimento dos prisioneiros. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Para quem era jovem e vivia nas
pequenas e médias cidades do interior do país, a década de 1960 foi um tempo de
coisas novas, elas apareciam no mundo e ia chegando devagar ao Brasil:
rock-and-roll se disseminando, os Beatles, a guerra do Vietnam, a revolução
estudantil na França e nos EUA; no Brasil, de repente a Jovem Guarda, Festivais
de Música da Record, a revolução sexual assustando os pais, os hippies
estabelecendo a moda, os jeitos, definindo as cores das roupas, com os tons e
formas psicodélicos; a Tropicália se estabelecendo, o aumento do consumo e disseminação
das drogas, principalmente do LSD; e a liberação da juventude do controle dos
pais numa ruptura com os “velhos” padrões, os padrões conservadores, e o
surgimento de um mundo novo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Tudo isso formava um amplo panorama
concepto-áudio-visual que dimensionava a realidade para um jovem do Brasil
interiorano. A partir de 31 de março de 1964, conhecíamos que o país vivera uma
“Revolução” (sic), mas não chegava até nós todos os ecos possíveis e prováveis
dessa “Revolução”; primeiro devido à lentidão e precariedade dos meios de
comunicação, e, segundo, porque a censura não se fez esperar para tomar o
controle do que se podia ou não divulgar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Foi somente com o AI-5, a
dissolução do Congresso Nacional, a cassação de direitos políticos de membros
da esquerda, a perda de direitos políticos por dez anos de qualquer cidadão sob
suspeita e o acirramento da censura, que os jovens do interior do país souberam
o que significava a mudança do regime político que ocorrera em 1964. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Essa digressão tem como objetivo
demonstrar que um mundo velho e um mundo novo conviviam no interior de um mesmo
contexto. Não era uma convivência pacífica, era uma convivência de confronto,
de controle, de tentativa de destruir o novo nas suas origens, já que ele
significava uma ruptura com a tradição do controle hegemônico do país pelas
elites conservadoras. Mais uma vez direita e esquerda se digladiaram, com a
direita mantendo o poder e o controle. O bem (a ditadura, os estrangeiros que “ajudavam”
o país a sair da crise econômica e política) contra o mal (a subversão dos socialistas/comunistas
e democratas).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium;"><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Considerando esse contexto, faz
sentido que o conceito de Antropofagia, desenvolvido por Oswald décadas antes,
fosse retomado pela classe artística e teatral em sua luta contra a presença
estrangeira no país. Segundo David George, além de resgatar do esquecimento o
drama do modernista Oswald de Andrade, o Oficina foi responsável por “trazer ao
palco pela primeira vez seu conceito estético-ideológico de Antropofagia” (p.
74). Barbara Heliodora menciona em seu artigo de 1971 que “os projetos teatrais
realizados no espírito do movimento de 1922 apareceram alguns anos mais tarde,
e os únicos textos que seriam considerados pertencentes inteiramente ao
movimento foram os escritos por Oswald de Andrade, em particular <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, o qual clama contra a
subordinação do Brasil à interferência estrangeira (agora incluindo os EUA)”
(p. 51). Yan Michalski, por sua vez, afirma que a produção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, pelo Oficina,
“desenvolveu uma estética genuína e projeto cultural, o que iniciaria uma nova
fase no teatro brasileiro e serviria de inspiração” para vários imitadores (MICHALSKI
apud GEORGE, 1992, p. 74).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Apesar de historiadores de teatro e
críticos demonstrarem incerteza sobre as circunstâncias que levaram o Teatro
Oficina a escolher <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> como
peça de inauguração de seu novo espaço teatral (um incêndio em 1966 havia
destruído o teatro onde o grupo operava), George afirma que uma única leitura
em grupo em determinada ocasião, foi o suficiente para criar entusiasmo e fazer
dos membros do Oficina adeptos da visão política e teatral de Oswald de
Andrade. A peça escrita mais de trinta anos antes “ressoou no coração de
eventos políticos recentes e em relação a resposta passiva da tomada militar.
Em três décadas, de ditadura a ditadura, apesar de sinais aparentes de
progresso, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> fez parecer
que o Brasil tinha estado congelado no tempo” (GEORGE, tradução livre p. 83).
George acredita que, como Oswald de Andrade antes deles, José Celso e seus
atores estavam convencidos que algumas parcelas da população brasileira “se
beneficiavam da estagnação, pobreza, e obsequiosidade ao poder e influência
estrangeiros” (tradução livre, p. 85). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Diferentes criações estéticas de
variados artistas compunham esse conturbado período no Brasil - constituindo o
movimento que ficou conhecido como Tropicália ou Tropicalismo – incluindo um
filme de Glauber Rocha, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Terra em Transe</i>,
que influenciaria os objetivos de Celso e sua montagem. Segundo George,
inspirado pelo filme de Glauber Rocha, Zé Celso, queria nada mais nada menos
que encontrar o caminho de volta à uma “era dourada Tupi”, através da criação
de uma nova linguagem teatral que iria expressar as mais profundas raízes da
cultura brasileira. Além disso, Celso acreditava, baseado nas ideias de Oswald,
que para voltar ao Tupi como um criador teatral, ele deveria devorar ou ser
devorado pelos colonizadores e suas doutrinas, “por modos artísticos impostos
de fora e imitados por brasileiros, por turistas e suas visões exóticas e
tropicalistas do Brasil, e consumidas pelos próprios brasileiros” (tradução
livre, p. 85). Esse novo manifesto antropófago do Oficina “pretendia ser um ato
de ‘descolonização’, uma tomada de consciência através da provocação, ultraje,
do ridículo, e mau gosto” (GEORGE, tradução livre, p. 85). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No entanto, segundo Fernando
Peixoto, que fazia parte do grupo durante esse período, a crítica do Oficina
não se restringia aos militares ou estrangeiros e era, por sua vez, “um
irrestrito descobrimento crítico do Brasil. Uma revisão de valores impiedosa e
implacável (...). E no final nós voltamos tudo isso contra o público, incluindo
a chamada elite intelectual e política. Porque o que nós fizemos foi
desenvolver um foco crítico baseado na zombaria e irreverência. Nada era
poupado, nem os mitos nem os estereótipos (...)” (apud GEORGE, tradução livre,
p. 86). George afirma que a montagem foi um verdadeiro “pot-pourri Tupi”: “A
produção desenvolveu seu processo antropofágico incorporando certas formas
populares que haviam sido marginalizadas pelos padrões estéticos internacionais
de bom gosto, como o circo, carnaval e revista” (tradução livre, p. 86). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Seguindo a descrição de Oswald, o
primeiro ato da montagem se passa no escritório de usura de Abelardo I – este
foi transformado num ambiente circense (incluindo um traje de domador de leões
para Abelardo). Hélio Eichbauer cobriu o palco (que havia sido reconstruído
como palco giratório inspirado por uma montagem de Bertolt Brecht) com uma lona
pintada de amarelo e vermelho para dar um efeito de velas queimadas - e velas
de vários formatos e tamanhos foram espalhadas pelo palco. O palco giratório
(que dava à audiência maior ou menor visibilidade dependendo de seu movimento)
representava a natureza cíclica e efêmera no mundo corrupto e de exploração de
Abelardo (GEORGE, p. 88). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Os atores, em colaboração com
Eichbauer, criaram seus próprios figurinos. Fernando Peixoto, no papel de
Abelardo, misturou seu traje de domador de leões com a bombacha gaúcha (fazendo
referência a Getúlio Vargas e João Goulart). Heloísa, no primeiro ato, usa um
terno de linho branco, gravata e chapéu – um traje de homem de negócios nos
anos 30, que “correspondia simultaneamente a três níveis de significado: a
emancipação da mulher, o lesbianismo de Heloísa e o ‘negócio’ que era seu
casamento com Abelardo”. Sua maquiagem dividia seu rosto em uma metade azul
(indicando o céu tropical), e a outra branca (indicando a brancura
fantasmagórica da decadência da sua classe social) (GEORGE, tradução livre, p.
89). Os Abelardos também tinham a face dividida em duas partes, “representando
a dualidade social” e aspecto fraudulento da personagem. Essa ideia de
dualidade foi inspirada pela peça <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Arturo
Ui</i> de Brecht. Dona Cesarina, sogra de Abelardo, estava vestida em um traje
tradicional (para uma senhora de estatura social do período) da cintura para
cima e um traje revelador (meia arrastão) da cintura pra baixo (GEORGE, p. 89).
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>George ainda chama atenção para os
elementos fálicos que, segundo ele, eram “onipresentes’ na montagem e “causaram
grande controvérsia entre as audiências, autoridades e alguns críticos”
(tradução livre, p. 90). Dona Poloca lambia um pirulito no formato da genitália
masculina. Todos os trajes masculinos, assim como as calças de Heloísa no
segundo ato, incluíam uma coquilha usada do lado de fora das calças. Segundo
Armando Sérgio da Silva, um dos elementos o diretor usou para unificar os três
atos foi um tipo de obsessão sexual: sexo no primeiro ato era um instrumento de
poder e dominação empunhado pelo macho brasileiro; no segundo ato deu lugar a
classe e conchavos políticos; no terceiro, funcionou como um contraponto
dramático ao primeiro ato: “Abelardo passou da posição vertical à horizontal,
terminando precisamente na clássica posição, de quatro, Abelardo II, seu
sucessor, permaneceu ereto com a vela na mão, a mesma que ele iria enfiar no
anus de Abelardo I... Um novo rei nascia. O macho exercitou seu poder. O
não-macho foi penetrado, sexualmente, pelo poder” (apud GEORGE, tradução livre,
p.90). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">O papel desempenhado pelo
americano, na peça <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, se
manifesta em toda a sua perspectiva de dominação quando Abelardo I, pouco antes
de morrer, avisa a Abelardo II sobre o “direito de pernada”, ou seja, o
estrangeiro não oprimia o país apenas por sua interferência econômica e
política, ia além, imiscuindo-se nas relações pessoais, subvertendo as relações,
submetendo física e moralmente os dominados, como se dava nos regimes feudais
da Idade Média. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">George diz: “(...) o paradigma
colonial significou que os brasileiros fossem sempre devorados (explorados
econômica e culturalmente) por estrangeiros. Os brasileiros deveriam agora
devorá-los. Antropofagia, nesse sentido, pode ser traduzida para o que eu
chamarei de pot-pourri Tupi: irrestrito uso de um grande número de fontes, seja
qual for a origem, sem respeito pela integridade das mesmas” (p.77). George
compara <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i> a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ubu Rei</i> do francês Alfred Jarry. Segundo
ele, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da Vela</i>, Oswald
“canibaliza” a peça de Jarry e “filtra” seus temas, personagens e símbolos
através de uma “peneira” nacional, os colocando “a serviço de uma realidade
brasileira” (p.78). George também afirma que a peça de Oswald parodia, sem
nenhuma dúvida, as formas teatrais vigentes nos anos 30: “revista, melodrama,
opereta” (p.78). George diz que: “Andrade fatiou sua personagem principal
Abelardo da carne de Ubu e cortou em pedaços comestíveis a ambição desnuda e a
cobiça dele (...), assim como sua covardice e imoralidade. Ambos as personagens
buscam ascensão social por quaisquer meios” (p.78). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele afirma ainda que a peça de Oswald deixa
clara sua visão sobre o capitalismo americano, que tira vantagem da crise
econômica e “vulnerabilidade histórica” do Brasil, aferrolhando o país com uma
dívida externa onerosa. Em termos “antropofágicos, o Brasil está sendo devorado
por estrangeiros” (p. 79). Nas palavras de Abelardo: “países inferiores tem que
trabalhar para países superiores assim como o pobre tem que trabalhar para o
rico” (ANDRADE, p. 94). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>George diz:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">Num nível
simbólico, a ascensão de um rei da vela, sua queda, e a ascensão de outro,
sugere que a estrutura socioeconômica do Brasil é cíclica e inalterável, e que
seus eventos são moldados por forças externas. Colocando em termos
antropofágicos, enquanto brasileiros devoram-se uns aos outros, eles são
devorados por estrangeiros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Abelardo II,
parodiando a antiga história de amor, afirma durante seu casamento: ‘Heloísa
vai sempre pertencer a Abelardo. É clássico. (p.79) <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;">George também afirma que Oswald
“emprestou” essa visão sobre o nosso “sistema econômico Tupiniquim” do Marxismo
(p.79). Sobre a sexualidade da peça, George afirma que “se a sexualidade na era
dourada Tupi era pura e sem restrições, no contexto de uma estrutura social
injusta e imperialismo sexual as relações são reduzidas a transações comerciais
e repressão de instintos, o oposto da era dourada Tupi” (p. 82). Essa perspectiva
faz com que a totalidade da apresentação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Rei da Vela</i> na leitura de José Celso Martinez Corrêa e do grupo Oficina transforme-se
num retrato da História do Brasil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: x-large;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: x-large;">O
Rei da Vela</span></i></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="font-size: x-large;"> 2013-2016</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Partimos do princípio de que para
entender os interregnos entre autoritarismo ditatorial e democracia, no
Brasil, precisamos conhecer a dinâmica do processo de constituição de nosso
modelo político. Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Hélio Jaguaribe,
Raymundo Faoro, dentre outros, concebem que a herança do modelo político
brasileiro decorre da tradição patrimonialista, mas não da tradição
patrimonialista do modelo Greco ou Romano. No caso do Brasil, essa tradição
seria herdada do modelo de patrimonialismo vivenciado na Península Ibérica,
acrescentado do despotismo oriental, dado pela longa dominação árabe na
península. Mas que relações podemos estabelecer entre esta origem e <i>O
Rei da Vela</i> de Oswald de Andrade?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para responder a essa questão precisamos
retomar os estudos do sociólogo alemão Max Weber, que analisou o conceito de
legitimidade, estabelecendo os três tipos de autoridades legítimas, que são:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[...] a)A autoridade tradicional,
que tem por base os valores e crenças nas virtudes sagradas do governante, cujo
direito ao poder é conferido pela tradição. Nesse tipo de governo não se leva
em consideração a pessoa do governante, mas o princípio do patrimonialismo,
onde não há separação entre o que é público e o que é privado. b)<b> </b>A
autoridade racional-legal é o tipo de poder exercido por um indivíduo ou
instituição, a partir de uma atribuição legal segundo uma ordem jurídica
racional, com base em leis, que lhe confere o poder. Nesse tipo de poder há
clara separação entre o que é público e o que é privado e vigora o princípio da
impessoalidade, pois os governantes têm seus poderes limitados e os direitos
individuais são garantidos. <a name="x_Carismática"></a><b>c) </b>A
autoridade carismática é aquela cujo poder deriva do carisma do líder e se
legitima em razão de suas qualidades pessoais. Esse tipo de autoridade
pode aparecer em qualquer momento da história de uma sociedade. O líder
carismático é o que mais se aproxima ao protótipo do profeta ou do salvador de
uma dada sociedade ou nação. Na história do Brasil de autoridade
tradicional se manifestaram, por muito tempo, os tipos e carismática, com
significativas transformações nesta sistemática somente nos anos finais do
século XX. (WEBER,1995, apud SALVADORI, 2008, p.49)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-left: 36pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Apesar de o Brasil ter
experimentado os dois modelos de dominação: o tradicional e o carismático, a
predominância foi do modelo tradicional, cuja dinâmica consta da não separação
entre o público e o privado, ao contrário da dominação racional-legal, onde as
duas instâncias estão bem separadas e onde predominam os interesses dos
representados e não dos representantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sérgio Buarque de Holanda (1963,
p.x apud CHACON,1985, p.19) chama a atenção para o fato de que, sendo o Brasil
um país de economia agrária, “com a predominância do tipo primitivo de família
patriarcal, o desenvolvimento da urbanização” do país, atraiu
“vastas áreas rurais para a esfera da influência das cidades. ” Segundo o
autor, essa seria a instância motivadora do desequilíbrio social vivenciado no
país. Destacamos também que foi ela a agenciadora da construção de relações de
poder do tipo dominador-dominados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dessas questões destacamos que a
maior responsabilidade do modelo para o que acontece no país, a intervalos,
continua sendo a predominância, na política, da não separação entre o público e
o privado, com os personagens políticos atuando na gestão política pública em
defesa dos próprios interesses, ou seja, dos interesses privados. Essa
descaracterização da função política transforma o Estado e suas funções num
balcão de negócios, donde decorre que a formação dos partidos políticos também
se dê em razão dos interesses, mais que das ideologias. Vamireh Chacon
nos diz que os partidos políticos brasileiros são incapazes de “canalizar e
mediar as reivindicações sociais, apesar dos esforços setoriais e meritórios,
empreendidos em alguns deles” (CHACON, 1985, p. 22). É aqui que introduzimos as
questões apresentadas por Oswald em <i>O Rei da Vela</i> e o terceiro
período político de nossa análise.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Há, apontando já em 2011 e se
concretizando em 2016/2017, no Brasil, como em 1930- 1945, 1964-1985, um
movimento de dissolução social, de decadência econômica, desemprego,
insatisfações com o sistema, suspeitas de interferência estrangeira, de ruptura
com as instituições (mesmo que sub-repticiamente) pela quebra dos contratos
sociais e pela invasão dos direitos pessoais e humanos pelo sistema para
desestruturá-los.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As tentativas de equilibrar as
relações de poder entre dominador-dominados, dadas pela aplicação das teorias
desenvolvimentistas ao processo econômico, feitas por governos trabalhistas,
entre 2002 e 2014, e entendidas como direcionamento político à esquerda do
espectro, inflaram manifestações de desgosto por parte dos grupos de dominação
nacionais e quiçá estrangeiros, num crescendo constante que ao final de doze
anos transformaram-se em manifestações de ódio explícito – e provocando o
acirramento das relações já mencionadas, produzindo a sensação de que o país se
encontra à deriva, ou seja, sem uma perspectiva definida de futuro. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse contexto, a antropofagia
oswaldiana se manifesta quando o que predomina na gestão política são os
interesses particulares, quando os governantes que quiserem ser bem-sucedidos e
levarem a termo suas propostas de gestão para o país, não podem atuar com
autonomia ou provocar insatisfações nos demais poderes da República, sob pena
de ter suas pautas de governança trancadas. Essa perspectiva gerou, de forma
mais evidente nos últimos doze anos, uma obrigatória política de coalizões, sem
a qual, para qualquer que seja o presidente da República eleito, há riscos de não
se conseguir governar o país. Parece ter sido essa a dinâmica que retirou todo
o apoio necessário à governabilidade da última gestão da Presidente Dilma Rousseff,
que foi deposta em 2016.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A deposição da Presidente Dilma Rousseff
fez emergir um contexto sócio-político-econômico extremamente complicado
para o país, trazendo à superfície uma sociedade contaminada por ódios,
revoltas e preconceitos, exterminando com a famosa cordialidade de sua
população. Nesse contexto, as duas principais vertentes do amplo espectro
político nacional passaram a se digladiar cotidianamente, nas ruas, nas redes
sociais, nas manifestações temáticas, retomando a dualidade defensores do
capitalismo versus defensores das massas despossuídas (capitalismo x
socialismo/comunismo, como se tem divulgado).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Talvez possamos afirmar que,
apesar de não estarmos, como nos dois momentos anteriormente citados,
vivenciando uma ditadura nos moldes das anteriores, não estamos também
vivenciando um pleno processo democrático, já que medidas extremamente
impopulares – conforme podemos avaliar pelas manifestações populares – têm sido
votadas e aprovadas pelos representantes da população. A supressão de direitos
levada a termo mesmo em vista da contrariedade da população – que elegeu seus
representantes para representá-la em suas necessidades e anseios – configura-se
como a ruptura das instâncias democráticas de ação. Nessa perspectiva, os
representantes da população agem de forma semelhante a Abelardo I e seu
substituto, Abelardo II, a quem importa ganhar, independentemente do que se
precise fazer, de como se faça e de quais princípios se necessite dispor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Talvez Oswald tenha sido
realmente profético ao evidenciar o predomínio das relações de poder e
interesses em nossa sociedade, em <i>O Rei da Vela.</i> O texto de
Oswald continua representativo da nossa realidade atual, tanto da dualidade
capitalismo versus socialismo/marxismo, quanto em relação à dominação
estrangeira sobre o país. O povo brasileiro, apesar de desejar chegar a um
desenvolvimento da qualidade que julga que se viva nos países
primeiro-mundistas, tem, no plano das ideias, um modelo dado de primeiro mundo,
fora do qual não existe a excelência. A situação vigente é dada e representada
pela assimilação indiscriminada de concepções, preconizadas por inúmeros instrumentos
de dominação (as mídias, principalmente), às quais assimilam sem criticidade. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O contexto vivenciado demonstra
que o conservadorismo patriarcal das décadas de 1930 e 1960 prossegue
condicionando as interpretações das ideias das elites econômicas e, em larga
escala, também da classe trabalhadora, principalmente daquela classe
trabalhadora que nos últimos doze anos ascendeu socialmente, podendo desfrutar
de viagens internacionais, lazer de qualidade e melhoria da educação, com
acesso à Universidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O Brasil, país cordial, de povo
gentil, multifacetado pelo convívio caloroso de povos diversos, é apenas um
agiota impiedoso que aspira unir-se a uma família brasonada para perder seu
complexo de ninguendade (Darcy Ribeiro), mesmo que tenha que entregar-lhe seu
dinheiro, suas terras, suas riquezas minerais, etc., como na peça de Oswald. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O que sobrou foram as ideias integralistas da
AIB, à serviço do espectro à direita, na política e o conjunto das ideias
da esquerda, que já não conseguem se reunir numa nova ANL, mas que se
manifestam em contrariedade do contexto vivenciado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como nas décadas dos períodos já
mencionados 1930-1945, 1964-1985, os primeiros movimentos de contestação da
deposição da presidente democraticamente eleita – a resistência – vieram das
classes populares, dos artistas e, no contexto atual, o teatro popular, o
teatro circense, a música, a literatura, dos intelectuais orgânicos, etc.
A grande novidade é a adesão de algumas artes consideradas eruditas aos
propósitos das classes populares. Não soubemos que a peça de Oswald tenha sido
encenada hodiernamente, mesmo assim, seu texto ainda é uma fiel representação
das relações sócio-político-econômicas vigentes no país. Talvez, como disse
Oswald em seu Manifesto Antropófago:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-left: 4cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Só a Antropofagia nos une.
Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-left: 4cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Única lei do mundo. Expressão
mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as
religiões. De todos os tratados de paz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-left: 4cm;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tupi, or
not tupi that is the question.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-left: 4cm;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Será, enfim, Antropófago, o homem
que se escondia sob a máscara da cordialidade tupiniquim? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: x-large; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="font-size: x-large;">BIBLIOGRAFIA</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ANDRADE,
Oswald de. Obras Completas. VII Teatro. A Morta. Ato lírico em três quadros. O
rei da vela. Peça em três Atos. O homem e o cavalo. Espetáculo em nove quadros.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A. Coleção Vera Cruz (Literatura
Brasileira) Volume 147-G. 1973. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">BOSI,
Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 32ª Ed. São Paulo: Cultrix,
1995.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="tab-stops: 117.1pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">CHACON, Vamireh. História dos
Partidos Políticos Brasileiros. Discurso e práxis de seus programas. Brasília,
Editora Universidade de Brasília, 2ª Ed., 1985.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">DINIS,
Rogério A.<span style="mso-bidi-font-weight: bold;"> “O Interdiscurso marxista na
obra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Rei da vela</i> de Oswald de
Andrade”</span>. </span><a href="http://www.foz.unioeste.br/~eventos/sepecel/artigos_sepecel_2009/Letras/Diniz.pdf"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-bidi-font-weight: bold;">http://www.foz.unioeste.br/~eventos/sepecel/artigos_sepecel_2009/Letras/Diniz.pdf</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-weight: bold;">;
coletado em 5/1/2017).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US;">GEORGE, David.
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Modern Brazilian Stage. </i>Editora
University of Texas Press (Austin), 1992.<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
</i></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">(tradução livre
Barbara Salvadori Heritage, 2016).<o:p></o:p></span></p>
<p class="xmsonormal" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">HELIODORA, Barbara. Influências Estrangeiras no Teatro
Brasileiro In <i>Cultura I</i><span class="apple-converted-space"> </span>(Brasília),
1971.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US;">POSTLEWAIT,
Thomas. Theatre Events and Their Political Contexts: A Problem in the Writing
of Theatre History, In <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Critical Theory
and Performance</i>, <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Edição
Janelle G. Reinelt and Joseph R. Roach, University of Michigan Press (Ann
Arbor), 2007.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">VENDRAMINI,
José Eduardo. Teatro e Metalinguagem In <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História
do Teatro Brasileiro</i>, direção FARIA, João Roberto. Perspectiva: São Paulo,
2013, vol. II p.261.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; letter-spacing: 0.1pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-30774490713619210172022-01-21T18:44:00.005-08:002022-01-21T18:44:43.097-08:00 HORAS<p><br /></p><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O que são horas?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tempos idos?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tempos gastos?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tempos retos?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tempos infaustos?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tempo marcado</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Aos pedaços?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">(dibs).</div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-48895667926775284752022-01-21T18:32:00.004-08:002022-01-21T18:32:54.916-08:00 Minha busca<p><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><br /></div></div><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">No céu noturno</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Bordado </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">De estrelas</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Busco uma face.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Que ela se revele</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Mesmo que incerta.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Num tênue sfumato,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Lusco fusco,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O abraço</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Entre a sombra </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E a luz,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Que a remota </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Memória</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Do Tempo </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Infinito</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Traduz.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Enquanto isso</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A lua fugidia</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Desliza pelo céu</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Em suave magia</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E, entre as massas </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Disformes</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">De nuvens macias, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Reluz! </div></div><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">dibs., (08/junho/2021)</div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-53143823749816949822022-01-21T18:24:00.004-08:002022-01-21T18:24:56.180-08:00 Sarx, Soma e Pneuma!<p><br /></p><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Nada tenho de meu!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O corpo que me serve é do tempo.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A pele que me veste é do tempo.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A roupa que utilizo, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">natural ou sintética, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"> Veio e vai para natureza.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A personalidade que utilizo </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">foi construída pela educação e pelos trancos e barrancos da vida.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A família, coordenada sindética da relação de viver,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Não é minha.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"> É do mundo, por preferência de ação educativa.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sobra a massa cinzenta que me anima os dias,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Que me turva as noites, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E que por livre arbítrio da química e dos conteúdos</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">dos quais me alimento</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Traça roteiros próprios.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Para ela não há controle remoto do qual possa me servir.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Nossa relação - desequilibrada, pois ela tem autonomia sobre as emoções - é de dominador-dominado.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Com relutância de sua parte, minha vontade prevalece no controle do que faço.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela domina as emoções, mas eu controlo as ações.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E me resta ainda a essência, essa coisa indefinida...</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">É ela quem me coloca no gênero humano e racional.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E o Pneuma , que flui e vivifica, passando a ideia de que há algo mais entre o céu e a terra do que conhecem as nossas vãs filosofias. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Assim, nada tenho de meu! </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Como matéria sou cópia de outros, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Como Pessoa sou construção coletiva, com opção de ação conquistada pelo desenvolvimento da reflexão própria.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Como unidade na diversidade sou igual e diferente.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Por isso, só dou os passos que quero, nas direções que escolho.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E, em meio as dúvidas naturais que alimentam meus dias,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">me resta uma certeza:</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A de que tenho autonomia para pensar,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O que me torna responsável por minhas escolhas, boas ou más.(dibs., 19/junho/2021).</div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-24206453214471679672022-01-21T18:14:00.002-08:002022-01-21T18:14:12.988-08:00 MALES<div style="font-family: inherit;"><div class="" dir="auto" style="font-family: inherit;"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc dati1w0a e5nlhep0" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_3qb" style="font-family: inherit; padding: 4px 16px;"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg" style="display: flex; flex-direction: column; font-family: inherit; margin-bottom: -5px; margin-top: -5px;"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d" style="font-family: inherit; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto" style="color: var(--primary-text); display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sofro de anacronismo crônico</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E evasão sideral</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Também sofro de saudade </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Atemporal</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Entre estes males e outros</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E coisa e tal, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Digo sempre a mim mesma</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Que viver é fatal!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">(dibs., 28/agosto/2021).</div></div></span></div></div></div></div></div><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;"><div style="font-family: inherit;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><div class="bp9cbjyn m9osqain j83agx80 jq4qci2q bkfpd7mw a3bd9o3v kvgmc6g5 wkznzc2l oygrvhab dhix69tm jktsbyx5 rz4wbd8a osnr6wyh a8nywdso s1tcr66n" style="align-items: center; border-bottom: 1px solid var(--divider); color: var(--secondary-text); display: flex; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; justify-content: flex-end; line-height: 1.3333; margin: 0px 16px; padding: 10px 0px;"><div class="bp9cbjyn j83agx80 buofh1pr ni8dbmo4 stjgntxs" style="align-items: center; display: flex; flex-grow: 1; font-family: inherit; overflow: hidden;"><span aria-label="Veja quem reagiu a isso" class="du4w35lb" role="toolbar" style="font-family: inherit; z-index: 0;"><span class="bp9cbjyn j83agx80 b3onmgus" id="jsc_c_3qe" style="align-items: center; display: flex; font-family: inherit; padding-left: 4px;"><span class="np69z8it et4y5ytx j7g94pet b74d5cxt qw6c0r16 kb8x4rkr ed597pkb omcyoz59 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 qxh1up0x qtyiw8t4 tpcyxxvw k0bpgpbk hm271qws rl04r1d5 l9j0dhe7 ov9facns kavbgo14" style="border-bottom-color: var(--card-background); border-left-color: var(--card-background); border-radius: 11px; border-right-color: var(--card-background); border-style: solid; border-top-color: var(--card-background); border-width: 2px; font-family: inherit; height: 18px; margin-left: -4px; position: relative; width: 18px; z-index: 2;"><span class="t0qjyqq4 jos75b7i j6sty90h kv0toi1t q9uorilb hm271qws ov9facns" style="border-radius: 9px; display: inline-block; font-family: inherit; height: 18px; width: 18px;"><span class="tojvnm2t a6sixzi8 abs2jz4q a8s20v7p t1p8iaqh k5wvi7nf q3lfd5jv pk4s997a bipmatt0 cebpdrjk qowsmv63 owwhemhu dp1hu0rb dhp61c6y iyyx5f41" style="align-items: inherit; align-self: inherit; display: inherit; flex-direction: inherit; 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cursor: pointer; display: inline-flex; flex-basis: auto; flex-direction: row; flex-shrink: 0; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; min-height: 0px; min-width: 0px; outline: none; padding: 0px; position: relative; text-align: inherit; touch-action: manipulation; user-select: none; z-index: 0;" tabindex="0"><br /></div></span></span></span></span></span><div class="" style="font-family: inherit;"><span class="tojvnm2t a6sixzi8 abs2jz4q a8s20v7p t1p8iaqh k5wvi7nf q3lfd5jv pk4s997a bipmatt0 cebpdrjk qowsmv63 owwhemhu dp1hu0rb dhp61c6y iyyx5f41" style="align-items: inherit; align-self: inherit; display: inherit; flex-direction: inherit; flex: inherit; font-family: inherit; height: inherit; max-height: inherit; max-width: inherit; min-height: inherit; min-width: inherit; place-content: inherit; width: inherit;"><div class="oajrlxb2 g5ia77u1 qu0x051f esr5mh6w e9989ue4 r7d6kgcz rq0escxv nhd2j8a9 p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql l9j0dhe7 abiwlrkh p8dawk7l lzcic4wl gmql0nx0 ce9h75a5 ni8dbmo4 stjgntxs a8c37x1j" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; 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flex-shrink: 0; font-family: inherit; justify-content: space-between; margin: -6px -2px; padding: 4px; position: relative; z-index: 0;"><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t d2edcug0 hpfvmrgz rj1gh0hx buofh1pr g5gj957u n8tt0mok hyh9befq iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex: 1 1 0px; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 2px; position: relative; z-index: 0;"><div aria-label="Envie isso para amigos ou publique na sua linha do tempo" class="oajrlxb2 gs1a9yip g5ia77u1 mtkw9kbi tlpljxtp qensuy8j ppp5ayq2 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 rt8b4zig n8ej3o3l agehan2d sk4xxmp2 rq0escxv nhd2j8a9 mg4g778l pfnyh3mw p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x tgvbjcpo hpfvmrgz jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso l9j0dhe7 i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of du4w35lb n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql pq6dq46d btwxx1t3 abiwlrkh p8dawk7l lzcic4wl" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; 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transition-property: opacity; transition-timing-function: var(--fds-animation-fade-out);"></div></div></div></div></div></div></div><div class="cwj9ozl2 tvmbv18p" style="color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 4px;"></div></div></div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-9767800006748919352022-01-21T18:10:00.004-08:002022-01-21T18:10:28.010-08:00 Pra não dizer que não falei de flores.<p><br /></p><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O destempero dos tempos produz um gosto amargo em minha boca. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Meu arroz com feijão tem provocado engasgos.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O grito que trago entalado no peito cresce como massa fermentada.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A sopa de letras mergulhada na tijela dos dias foi abocanhada por sofismadores insensatos para a construção de falácias.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A realidade líquida de nossos dias ganhou o ritmo das tempestades e, como elas, escorre, deixando terra arrasada e revolvendo a argila frágil da consistência humana.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Enquanto a realidade escoar pelo ralo da insensatez talvez nem adiante plantarmos flores! (dibs, 05/setembro/2021).</div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-85673104196719471772022-01-21T18:07:00.007-08:002022-01-21T18:07:55.340-08:00 Ausência<p><br /></p><div style="font-family: inherit;"><div class="" dir="auto" style="font-family: inherit;"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc dati1w0a e5nlhep0" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_3fq" style="font-family: inherit; padding: 4px 16px;"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg" style="display: flex; flex-direction: column; font-family: inherit; margin-bottom: -5px; margin-top: -5px;"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d" style="font-family: inherit; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto" style="color: var(--primary-text); display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ausência é a presença de marcas,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Registros, sombras, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Lembranças...</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Um buraco negro </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sem começo, nem fim</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Que consome a energia da vida.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O tédio, a dor, a raiva,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A agonia da memória</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">De uma presença acrônica. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Um temporal</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">De sensações desconexas,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A vida em avesso,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Um fim sem começo,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O tropeço,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O salto no escuro,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Um presente só passado</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E sem futuro.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">(dibs. 28/setembro/2021).</div></div></span></div></div></div></div></div><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;"><div style="font-family: inherit;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><div class="bp9cbjyn m9osqain j83agx80 jq4qci2q bkfpd7mw a3bd9o3v kvgmc6g5 wkznzc2l oygrvhab dhix69tm jktsbyx5 rz4wbd8a osnr6wyh a8nywdso s1tcr66n" style="align-items: center; border-bottom: 1px solid var(--divider); color: var(--secondary-text); display: flex; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; justify-content: flex-end; line-height: 1.3333; margin: 0px 16px; padding: 10px 0px;"><div class="bp9cbjyn j83agx80 buofh1pr ni8dbmo4 stjgntxs" style="align-items: center; display: flex; flex-grow: 1; font-family: inherit; overflow: hidden;"><span aria-label="Veja quem reagiu a isso" class="du4w35lb" role="toolbar" style="font-family: inherit; z-index: 0;"><span class="bp9cbjyn j83agx80 b3onmgus" id="jsc_c_3ft" style="align-items: center; display: flex; font-family: inherit; padding-left: 4px;"><span class="np69z8it et4y5ytx j7g94pet b74d5cxt qw6c0r16 kb8x4rkr ed597pkb omcyoz59 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 qxh1up0x qtyiw8t4 tpcyxxvw k0bpgpbk hm271qws rl04r1d5 l9j0dhe7 ov9facns kavbgo14" style="border-bottom-color: var(--card-background); border-left-color: var(--card-background); border-radius: 11px; border-right-color: var(--card-background); border-style: solid; border-top-color: var(--card-background); border-width: 2px; font-family: inherit; height: 18px; margin-left: -4px; position: relative; width: 18px; z-index: 2;"><br /><br /></span></span></span></div></div></div></div></div><div class="cwj9ozl2 tvmbv18p" style="color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 4px;"></div></div></div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-64309164827859902342022-01-21T18:04:00.005-08:002022-01-21T18:05:36.756-08:00 Um olhar<p><br /></p><div style="font-family: inherit;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc dati1w0a e5nlhep0" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_39e" style="font-family: inherit; padding: 4px 16px;"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg" style="display: flex; flex-direction: column; font-family: inherit; margin-bottom: -5px; margin-top: -5px;"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d" style="font-family: inherit; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">De um olhar</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Um amor...</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Uma bela canção</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Uma gota de sol</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Aquecendo meu chão</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sua foto na mesa</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Seu olhar, vastidão...</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E a saudade é eterna</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">No meu coração. (dibs.Outubro/2021)</div></div></span></div></div></div></div></div><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;"><div style="font-family: inherit;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><div class="bp9cbjyn m9osqain j83agx80 jq4qci2q bkfpd7mw a3bd9o3v kvgmc6g5 wkznzc2l oygrvhab dhix69tm jktsbyx5 rz4wbd8a osnr6wyh a8nywdso s1tcr66n" style="align-items: center; border-bottom: 1px solid var(--divider); color: var(--secondary-text); display: flex; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; justify-content: flex-end; line-height: 1.3333; margin: 0px 16px; padding: 10px 0px;"><div class="bp9cbjyn j83agx80 buofh1pr ni8dbmo4 stjgntxs" style="align-items: center; display: flex; flex-grow: 1; font-family: inherit; overflow: hidden;"><span aria-label="Veja quem reagiu a isso" class="du4w35lb" role="toolbar" style="font-family: inherit; z-index: 0;"><span class="bp9cbjyn j83agx80 b3onmgus" id="jsc_c_39h" style="align-items: center; display: flex; font-family: inherit; padding-left: 4px;"><span class="np69z8it et4y5ytx j7g94pet b74d5cxt qw6c0r16 kb8x4rkr ed597pkb omcyoz59 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 qxh1up0x qtyiw8t4 tpcyxxvw k0bpgpbk hm271qws rl04r1d5 l9j0dhe7 ov9facns kavbgo14" style="border-bottom-color: var(--card-background); border-left-color: var(--card-background); border-radius: 11px; border-right-color: var(--card-background); border-style: solid; border-top-color: var(--card-background); border-width: 2px; font-family: inherit; height: 18px; margin-left: -4px; position: relative; width: 18px; z-index: 2;"><br /></span></span></span></div></div></div></div></div><div class="cwj9ozl2 tvmbv18p" style="color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 4px;"></div></div></div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-37430242106734358142022-01-21T17:58:00.005-08:002022-01-21T18:00:43.237-08:00 Déjà vu (Dirce Bortotti Salvadori, Janeiro de 2022)<div style="text-align: left;"><br /></div><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Hoje vi uma foto de um amigo querido quando mais jovem. Ele ainda é jovem, mas era ainda mais jovem na fotografia. Ao vê-lo naquela fotografia pensei: - “isso foi ontem! ” E, ao pensar assim, me dei conta do quanto tudo que me aconteceu viver foi ontem. Foi ontem ainda que estive adolescente; foi ontem que encontrei o meu amor; que namoramos; nos casamos; passei três verões grávida; foi ontem que criei meus filhos, que os vi crescer e partir para a vida. Tudo é tão recente em minha mente que, realmente, foi ontem. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Nascer, crescer e viver está tão vívido em minha memória que é como se tivesse acontecido ontem. É como se o que vivi pudesse ser representado por uma linha reta de um centímetro entre dois pontos: o ontem e o hoje. No entanto, não foi assim. Sabemos que o tempo não é uma linha reta, e que a espiral que percorremos no espaço-tempo em que vivemos, se esticada, cobriria uma incalculável distância entre o nascimento e a morte. O nosso espaço-tempo compõe-se de tantas transformações que os segundos, minutos, horas, dias, meses e anos que utilizamos para contá-lo não conseguem dar a sua correta dimensão. Essas medidas são apenas notações que conseguimos compreender. Servem, talvez, para nos dar a dimensão de nossa insignificância perante o todo que é o nosso complexo universo. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">E, apesar da complexidade do todo, nós, minúsculos seres perante a totalidade, talvez jamais compreendamos que a nossa insignificância se reveste de todo significado apenas se tomado na dimensão humana, no exercício de ser gente, pessoa. Na tarefa de exercitar o bem e o bom no interior da espécie, de pavimentar o caminho para o exercício da igualdade e da tão falada fraternidade. Como tudo o que é plantado, estamos sempre retornando ao nosso estágio de sementes: nascemos, crescemos, florimos, frutificamos, murchamos, nos tornamos sementes e morremos para nascer de novo. Mas o renascimento de tudo que é deve ser transformador e o nosso não é. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Prova disso são todas as inflexões dos cinco últimos anos e da dimensão de tudo o que, nesse tempo, foi destruído. Essas observações ainda me provocam a sensação de que a rotação da terra foi alterada em seu eixo e cada volta é um retorno do que já vivemos de pior, como espécie, como país, individualmente, e como mundo, o coletivo de muitos povos e países. E não foi a pandemia do vírus SARS-CoV-2, o tal do Covid-19. A pandemia só agravou o que já havia circulando como um poderoso veneno nas veias da espécie humana. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Ontem a fé no futuro era uma realidade. Imaginávamos que fosse consenso o pensamento do mundo como um espaço para todos, um espaço que deveria ser cada vez mais humanizado, menos desigual, menos cruel. Havia credibilidade na potencialidade humana para a construção de uma Ciência a serviço da humanidade e que ela geraria conhecimentos e recursos humanos e tecnológicos para curar todas as doenças e prolongar a vida. Mas isso tudo não era real, era só um baile de máscaras. Findo o baile, caíram as máscaras. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Hoje, retornamos ao século XIX e muitos perderam a crença na Ciência, a fé e as crenças religiosas foram transformadas em armas de guerra e já nem cremos mais na nossa própria espécie. O nosso poder destruidor tem se manifestado em guerras infinitas de uns contra outros. As guerras destroem, desalojam, impedem a vida digna de muitos e nós nos sentamos de costas para a porta de nossa caverna, a ver as sombras que se projetam em suas paredes, incólumemente. Ninguém sai para olhar a realidade frente a frente. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Os líderes de grandes potências mundiais repetem todos os erros de seus antecessores e prosseguem buscando dominar mais e mais espaços geográficos pela força bruta. Os seres humanos não são mais um valor a ser preservado. O grande valor a ser preservado se conta em dígitos numéricos nas instituições financeiras. E para que alguns tenham mais, possam mais, dominem mais, não importa quantos percam tudo e nada tenham. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Enfim, os humanos foram substituídos em seu valor inerente de pessoa pelas finanças. E no nosso retorno ao passado, nada hoje é mais importante que elas, pois vivemos algo como uma mistura dos séculos XVII e XIX e retomamos os caminhos da pobreza, da miséria e do laissez-faire. Repetindo Colbert, controlador das finanças do Rei Luíz XIV da França, nossos poderosos economistas continuam perguntando aos nossos poderosos “ reis” o que o governo pode fazer para auxiliar a economia... e eles prosseguem respondendo: Laissez-nous-faire”, ou seja, “ deixe conosco”. E quanto ao resto? Deixem fazer, deixem passar...</div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">E eu retorno à fotografia antiga de meu amigo e penso: “isso foi ontem” e, com a permanente sensação de déjà vu, constato, no entanto, que amanhã já é 2022. (dibs)</div></div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-1145291559847467372020-09-16T21:04:00.002-07:002020-09-16T21:05:12.391-07:00 SEU DEMA, EU, E O DEBATE.<div style="font-family: inherit;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc e5nlhep0 dati1w0a" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_vg" style="font-family: inherit; padding: 4px 16px;"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg" style="display: flex; flex-direction: column; font-family: inherit; margin-bottom: -5px; margin-top: -5px;"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d" style="font-family: inherit; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;"><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d9wwppkn fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id hzawbc8m" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Seu “Dema” e eu sempre fomos apaixonados pelo debate político. Por gostarmos muito, acabou se tornando um hábito a leitura sobre e a discussão política e político-econômica na nossa casa. Meu marido, meus filhos e eu sempre tivemos posicionamentos e adoramos uma polêmica. Em alguns debates concordávamos todos, noutros nem tanto e muitas vezes fomos absolutamente antagônicos. E, claro, em muitas questões há/havia um grupo que compõem/compunha a maioria e que sempre tenta/tentava convencer a minoria, e vice-versa. Antagônicos ou não, o importante é que ninguém por aqui é neutro e ninguém se furtava ou se furta ao debate. Seu “Dema” era um grande debatedor: já havia participado, inclusive, de debates políticos na TV local. Nossa posição antagônica em alguns temas fazia com que ele adorasse me provocar. Todos os dias qualquer um de nós tinha uma manchete, pauta ou tema para discutir, mesmo com as filhas morando em outro país. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Este hábito familiar perdeu muito com a partida precoce do seu “Dema”. Sem suas provocações, a coisa toda perdeu a graça. Além desta irreparável perda, a realidade vivenciada agora provoca em todos nós um desencantamento. A repetição cíclica das mesmas situações é desesperadora. Não há expectativas de transformações quando assistimos à repetição ‘ad infinitum’ dos mesmos comportamentos, dos mesmos erros, da mesma subordinação da política e dos políticos ao jogo sujo, tanto para a aquisição do poder, quanto para o enriquecimento ilícito. Sem suporte histórico e cultural para a análise, grande parte da população vive um retrocesso no plano do imaginário coletivo e apoia a desconstrução dos próprios direitos; condições conquistadas à duras penas são subtraídas num piscar de olhos, graças ao apoio possibilitado pelo efeito da multiplicação irrefletida na interpretação de um discurso mentiroso e extremamente nocivo. De forma geral, grande parte da população brasileira se deixa escravizar voluntariamente pela defesa de valores que não sabe avaliar, não interpreta, não entende. O reforço dos elementos de um imaginário latente alicia pelo sentimento de representação e empoderamento, utilizando-se de um discurso que usa Deus/Pátria/e Família como bordão principal, repetindo o que fez o Integralismo, movimento de ultradireita que formatou o nazifascismo no Brasil, e que se manifestou entre os anos de 1932 a 1937. O nazifascismo que compõem o Integralismo brasileiro atual conta com um meio de difusão que não havia no início do século XX: as redes sociais. Vistas e entendidas inicialmente como um salto qualitativo nas comunicações, os novos meios e linguagens, a partir de 2013 principalmente, se transformaram em poderosas armas na criação de uma falsa realidade, num bem-sucedido método/processo de desconstrução de toda e qualquer política pública que significasse avanços sociais para as classes trabalhadoras. A cooptação do imaginário coletivo por falsidades alegorizadas – as célebres cartilha e mamadeira utilizadas na campanha política, por exemplo - utilizadas de forma a evocarem uma reação negativa, abrangendo o âmbito da relação sagrado-profano, configurou-se em estratégia de comunicação, que utiliza nos discursos chamamentos e expressões simbólicas, de apelo a valores culturais e religiosos tradicionais e fundamentalistas, convocando o outro à uma reação exacerbada na defesa de tais valores. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">E uma rede de ódio voltada a tudo que é progressista se organizou. A partir daí aflorou desse imaginário coletivo uma crença na necessidade de reações violentas contra avanços científicos, igualdade social e racial, questões de gênero, políticas públicas desenvolvimentistas, papel social do Estado, etc...</div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">As redes sociais tiveram e têm papel preponderante neste processo. Libertos dos limites postos pelo “olho no olho”, “ face a face”, etc., e protegidos pelo fator da anonimidade, as vozes se colocam com a crueldade e a rudeza do descompromisso com qualquer critério de veracidade, possibilitando que uma mentira repetida muitas vezes tome ares de verdade. A convivência destes fatores entre si estabeleceu uma imagem virtual do mundo: há a realidade concreta, observável e às vezes palpável do mundo material, e a realidade criada pelos discursos e que se apresenta nas redes sociais, cooptando o imaginário de uma grande parcela da população brasileira. O poder dos discursos é tal, que conseguem estabelecer no imaginário coletivo uma realidade extraordinária que só aí existe, assim como não existiam as tais cartilha e mamadeira utilizados na campanha política. Assim, o que vemos acontecer hoje é a construção de um universo paralelo ao real, fundado num discurso carregado de imagens e símbolos capazes de extrair do âmago de muitos o que há de pior. E o pior é que talvez isto seja apenas o começo. Embora tivéssemos algumas diferenças partidárias, seu Dema e eu sempre compartilhamos o sonho de ver o nosso país ser “ honestamente” administrado. E se ele estivesse aqui, certamente estaria tão desanimado quanto eu, mas continuaríamos nosso interminável debate familiar sobre a política e os políticos.</div></div></span></div></div></div></div></div><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: "segoe ui historic", "segoe ui", helvetica, arial, sans-serif; font-size: 12px;"><div style="font-family: inherit;"><div class="a8nywdso e5nlhep0 rz4wbd8a ecm0bbzt dhix69tm oygrvhab wkznzc2l kvgmc6g5 k7cz35w2 jq4qci2q j83agx80 olo4ujb6 jmbispl3" style="display: flex; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; height: 32px; margin: 0px 16px; padding: 4px 0px;"><span class="_18vi" style="align-items: center; display: flex; flex: 1 0 0px; font-family: inherit; justify-content: center;"><div class="l9j0dhe7 k4urcfbm" style="font-family: inherit; position: relative; width: 156px;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><span style="font-family: inherit;"><div aria-label="Curtir" class="oajrlxb2 bp9cbjyn g5ia77u1 mtkw9kbi tlpljxtp qensuy8j ppp5ayq2 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 rt8b4zig n8ej3o3l agehan2d sk4xxmp2 rq0escxv nhd2j8a9 j83agx80 mg4g778l btwxx1t3 pfnyh3mw p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x tgvbjcpo hpfvmrgz jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso l9j0dhe7 i1ao9s8h esuyzwwr gokke00a du4w35lb lzcic4wl abiwlrkh p8dawk7l buofh1pr taijpn5t" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; align-items: center; background-color: transparent; border-bottom-color: var(--always-dark-overlay); border-left-color: var(--always-dark-overlay); border-right-color: var(--always-dark-overlay); border-style: solid; border-top-color: var(--always-dark-overlay); border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: flex; flex-direction: row; flex: 1 0 auto; font-family: inherit; 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margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Movendo os braços em torno à lateral do corpo eu voava! Horas de treinamento eram necessárias para que o movimento de cada braço tivesse a potência de uma hélice. Até chegar ao equilíbrio aéreo dos dois braços funcionando sincronicamente levei muitos tombos, feri os joelhos, machuquei as mãos e esfolei a sola dos pés. Mas depois de algum tempo, conseguido o equilíbrio e dado o primeiro salto no ar, eu planava a poucos centímetros do chão. Aos poucos ia me elevando e ganhando altura sobre as construções da rua, depois do bairro, a seguir da cidade. A dor inicial do esforço dos braços em hélices ia desaparecendo e um ruído característico indicava o surgimento de asas potentes, que agora me sustentavam no ar. Mais que vê-las, eu podia senti-las fortemente enraizadas no meu corpo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">De início eu estava só e não vislumbrava viva-alma no espaço aberto que se descortinava aos meus olhos. Aos poucos, porém, manchas claras no céu me indicaram a presença de outros seres iguais. Por diversas vezes observei-os à distância, temendo suas presenças. De corpos magros e de longos cabelos, suas vestes diáfanas, que mal se delineavam no azul acinzentado do espaço, tornavam-nos surreais. Mas a sensação de tranquilidade e segurança, aos poucos, tomou conta de mim e eu soube que podia confiar neles. Eram seres como eu, desgarrados do mundo, que nas madrugadas cumpriam o destino de livrar-se de si mesmos e seguir o anseio interior de libertação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Nos primeiros dias éramos dois ou três seres iguais, no entanto, com o passar das semanas e o aprendizado da elevação a níveis mais altos do espaço, pude constatar que éramos muitos. Semelhantes em aparência, com o tempo nos aproximamos. Ficávamos horas a dialogar, planando tranquilamente, como se boiássemos numa agradável e imensa piscina, numa franca afronta às leis da realidade física do mundo material. Uma observação que pude fazer é que éramos, na totalidade do grupo, seres femininos, notívagos e, de certa forma, sonâmbulos, já que muitos dentre nós só se davam conta de onde estavam ao sentir no rosto a brisa fria da elevação no espaço. Isso só era possível porque o ritual de elevação já era tão inerente à nossa cognição que muitas vezes passava despercebido do corpo físico. </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">Foram tempos de descobertas. Minha consciência ganhava amplitude, se expandia. Os limites da realidade se ampliavam e eu já podia perceber o que normalmente era imperceptível. Eu sentia que tudo era possível desde que me mantivesse liberta das cadeias impostas pelos limites da realidade material, concreta e palpável. Se havia alguma verdade ela estava ali, no esforço do aprendizado da transformação e da elevação, no imperceptível que está no cotidiano, no além da razão que flerta com a racionalidade, mas sem manifestar-se, discreto em sua totalidade divergente e transgressora. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-indent: 0px;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Assim como chegou, o tempo de voar se foi, inexplicavelmente. Por vezes, ainda me lembro das demais companheiras de jornada e fico a imaginar se lhes ocorreu o mesmo que a mim e uma pergunta insiste em incomodar meus dias: o que, afinal, foi feito de minhas asas? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: start; text-indent: 0px;">
</div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; margin: 0px; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<br /></div>
</div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-56396156762156607642016-04-23T20:48:00.004-07:002021-07-31T18:57:00.682-07:00A COMPLETUDE EM NOSSAS IMPERFEIÇÕES<div style="font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<div style="line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;"><p class="MsoNormal">Somos perfeitos<br />
um para o outro<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Eu sol<br />
Vc lua<br />
Eu palavra<br />
Vc silencio<br />
Eu diálogo<br />
Vc monólogo<br />
Eu incertezas<br />
Vc certezas<br />
Eu emoção<br />
Vc razão<br />
Eu equilibrista<br />
Vc chão firme<br />
Eu qualitativa<br />
Vc quantitativo<br />
Eu avesso<br />
Vc direito<br />
Eu crença<br />
Vc descrença<br />
Eu insegura<br />
Vc segurança<br />
Eu imaginação<br />
Vc concretude<br />
Eu vazia<br />
Vc pleno<br />
Eu muitas<br />
Vc único.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Talvez por isso<br />
Nos amemos tanto!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p></div><div class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 19.32px;">
<span style="background-color: #990000; color: white;">
</span><div style="background-color: #990000;">
</div>
</div>
</div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-14884885343581386342016-04-21T19:42:00.005-07:002021-07-31T18:54:04.195-07:00ANDANÇAS <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>(Este
texto, com algumas reformulações, já foi publicado na página Veja Andirá com o
nome de Contos de Andirá)</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><b><span><br />
1 UM HOMEM DE MUITOS CAMINHOS</span></b><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Ele
chegou em Andirá com a família em Fevereiro de 1962. Vinha de Apucarana
com a mulher e as quatro filhas. Seguia a rota da esperança em busca de
nova vida, talvez novo meio de vida. Era muito magro e de aparência frágil, mas
quem o conhecia sabia que o físico não servia como medida para a capacidade
infinita de trabalho. Nunca tinha hora para o descanso. Manhãs, tardes e noites
fundiam-se quando se tratava de ganhar o sustento da casa. Apesar do
esforço e da boa vontade já fora enganado por promessas vãs de patrões ladinos.
Viera para trabalhar com um novo patrão, parente do anterior, mas de boas
referências. A moradia fora cedida pelo patrão e distava apenas duas quadras da
Catedral, rua acima, do lado direito, na esquina, próxima a Delegacia, na área
central da cidade. Casinha boa, de alvenaria, três quartos, sala grande,
cozinha e nos fundos do quintal um cômodo minúsculo, onde guardara os livros
todos coletados ao longo da vida. A residência era parte de um
estabelecimento comercial, ora desativado, e por isso duas portas grandes, de
aço, sempre fechadas, davam para a rua.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>A
família tinha sensação de que o ano voara tão envolta estivera em estabelecer
novos laços de amizade na terra estranha. Como 1962 fora um bom ano para
o comércio, a “Loja” vendera bem, ele ganhara um bom dinheiro e resolveu ficar
naquela cidade da qual todos em casa já gostavam muito. Afinal o resto da
família – pais, primos e tios e sogros – estavam todos ali perto, vivendo em
fazendas de café nos arredores de Santo Antonio da Platina, Bandeirantes e
Jacarezinho. Também levou em consideração a adaptação das filhas, que não
tiveram dificuldades em fazer amigos. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>A vida
era corrida, levantava às seis horas da manhã e as sete já estava no trabalho,
mal tinha tempo pra ver as filhas crescendo. Abria a loja, ajeitava os
tecidos em exposição na calçada, e junto com os demais trabalhadores começava a
faina do dia, medindo e cortando. Cuidava do movimento, na calçada, chamando:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Vai
um vestido aí freguesa? Olha só esta estampa que beleza! É o que se usa nas
cidades grandes!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Vai
uma camisa aí patrão? Tricoline pura, algodão do bom, é camisa pro resto da
vida!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>-
Precisa de lençóis patroa? Nós temos o melhor algodão da cidade! Pras cortinas
temos um chitão de boa qualidade, não desbota nem solta tinta.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Vai
casar a filha patrão? O melhor enxoval de noiva é com a gente! Ainda mandamos
entregar na porta de sua casa e se precisar até a costureira a gente arruma!
Pode comprar sem medo que o melhor desconto é aqui!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>E
assim, com a fala específica dos vendedores de “panos”, apreendida nos longos
anos passados atrás dos balcões, ele ganhava o sustento da família. Conhecia
como ninguém os macetes para comunicar de um para outro vendedor o tipo de ação
requerido pelo freguês que chegava. À guiza de aviso, dizia:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Lá
vem um Zequinha Moura!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>-
Zobeie que é burguês!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Deixa
comigo que o caso é especial!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Não
perca tempo que é picão!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- É
piculina, nem adianta ir desmanchando peças!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Tratava-se
de uma linguagem cifrada, comum entre os “caixeiros” da época, inocentes
palavras, códigos do balcão.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>E assim
foi até final de 1964. Os anos de 1963 e 1964 foram ruins para o comércio de
tecidos. A queda das vendas refletia os resultados da agricultura e da situação
política vivida pelo país e ser comerciante se transformou num péssimo negócio.
Era o princípio dos anos politicamente conturbados e mesmo nas pequenas
cidades do interior do país sentia-se pairar uma aura de medo e dúvida pelos
rumos da nação e pelo destino de cada um. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><b><span>2
TEMPOS DE INCERTEZAS</span></b><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Nestas
alturas a família tinha mais uma filha e se mudara para outra casa, a cem
metros do Grupo Escolar Ana Néri. As meninas pequenas estudavam no “parquinho”
em frente a casa e as duas mais velhas, que antes estudavam no Ana Néri,
agora frequentavam a Escola de Aplicação. Os dias quentes transcorriam lentos e
pesados, como se o relógio do tempo se arrastasse cansado no verão abafado.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Certo
dia ele chegou em casa muito assustado, pois soubera que o dono de um bar,
situado a duzentos metros, falara mal do governo e alguns dias depois fora
visitado por uns homens estranhos, vestidos de negro. O comentário da semana
foi o desaparecimento deste personagem. O bar nunca mais abriu as portas,
e a família foi embora da cidade sem se despedir de ninguém, silenciosamente.
</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>De
espírito ardente e inquieto ele sempre exercera o seu direito à crítica, talvez
por isso tenha ficado ainda mais assustado. Permaneceu calado por alguns dias,
quieto, taciturno e reflexivo e qualquer rumor estranho era motivo de
apreensão.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Estava
preocupado principalmente porque brigara com uma das professoras das filhas. Na
sua concepção, fora um caso de ofensa à honra da família, coisa de atitude
burguesa mesmo. Ele detestava atitudes desta espécie! Acontecera o
seguinte: A Escola de Aplicação passara a oferecer o leite americano (Leite
para o Progresso, do Programa Aliança para o Progresso, que vinha em pó e em
grandes caixas) no horário da merenda, e uma de suas filhas se recusava a
tomá-lo, razão pela qual foi severamente repreendida pela professora, que ainda
completou a repreensão com a seguinte sentença:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Menina
boba! Filha de pobre, talvez passe fome em casa e na escola fica com esta
frescura! Pelo que sei o pai mal sustenta as próprias calças. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>A
criança chorou muito quando ouviu isso, pois sabia ser mentira, e as
professoras chamaram a irmã mais velha para atendê-la. Não teve jeito, ambas
foram dispensadas para retornarem a casa ante o desconsolo da menor.
Naquela noite ele foi informado do se passara. Mal pode
esperar pelo dia seguinte para ir à escola e avisar as professoras que processaria
quem quer que obrigasse qualquer de suas filhas a beber do tal leite. Na
seqüência, aproveitou para dar a conhecer o que pensava da atitude da
professora e da política assistencialista do governo militar à custa do governo
norte-americano. Extraiu as reservas de ira do fundo de sua alma geneticamente
anarquista para desancar os burgueses do sistema estadual de ensino. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Por
esta razão quando desapareceu o dono do bar, ficou apreensivo. Pensava na
mulher e nas filhas e em como elas fariam para sobreviver caso ele lhes
faltasse. Depois disso ainda ficou em Andirá até Dezembro de 1964, quando
foi convidado a inaugurar uma loja em Borrazópolis. Ainda era uma loja de mesma
denominação, mas de outro ramo da mesma família, parentes do patrão do seu
atual lugar de residência. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>E para
lá se foi mais uma vez! Seguia a rota da esperança de dias melhores.
Todos da família sentiram mudar-se, mas a filha mais velha sentiu ainda
mais. Nas famílias numerosas todos compartilham das dificuldades reais
vivenciadas pelas classes trabalhadoras e a infância é um período muito breve,
as fantasias vão embora muito cedo, substituídas pelo desnudar da realidade.
Sem que os pais percebessem sua filha mais velha já era quase uma mocinha, pois
estava com doze anos e há muito tempo participava das preocupações e discussões
dos pais quanto ao futuro da família.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Desde
os sete anos, quando a família deixara Santo Antonio da Platina, temia fazer
amigos, pois as mudanças constantes provocavam sofrimentos. Embora entendesse
os motivos do pai, odiava sofrer, odiava sentir falta daqueles de quem
gostava. Adaptar-se a novos ambientes e fazer novos amigos a cada dois ou três
anos era difícil pra uma adolescente. Desta vez seria ainda mais difícil,
porque tinha um segredo guardado a sete chaves. Não conseguia tirar da cabeça
um menino loirinho, coroinha do Padre Paulo, pároco da Igreja de São Sebastião.
</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Até a
notícia da mudança estava muito feliz, pois em 1964 tirara a melhor nota num
exame de âmbito estadual do Estado do Paraná, num concurso para estudantes da
quarta série, e ganhara uma Bolsa Estudos para o Ginásio e o Colegial.
Assim, tinha se matriculado para cursar o primeiro ano do Ginásio
Clássico no início de 1965, pois aprender latim a deixaria mais próxima do
menino loirinho. Por isso, quando o pai comunicou que iriam embora de
Andirá, chorou muito. Seguiu inconsolável por dias e dias. Pensava no curso
Clássico que não faria e na Bolsa de Estudos que perderia, pois um dos
requisitos para mantê-la era estudar até o último ano do Colegial na mesma
cidade. Mas o que pesava mesmo era pensar no coroinha de olhos claros.
Sempre tivera um “que” com meninos de olhos claros! Certamente jamais
voltaria a vê-lo. Com tantas mudanças, sabe-se lá onde o pai iria parar com sua
busca de justiça trabalhista e dias melhores? </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Na data
marcada para a viagem, junto com os brinquedos, as roupas do cotidiano e o
uniforme da Cruzada, embalou seus sonhos e os colocou no fundo do baú de
madeira da mãe. Quando desembalou as roupas e os brinquedos, que já trocara
pelos livros, deixou as lembranças no baú, onde sabia que estava lacrando para
sempre a imagem do menino que sabia latim, por isso guardou tudo que lhe
permitisse lembrá-lo.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Mesmo
assim, todo dia rezava para ter um motivo para retornar a Andirá e
revê-lo. Lembrava-se da agonia que sentia quando depois da missa alguma menina
ia conversar com ele, suas pernas tremiam e tinha tonturas e mal-estares
repentinos e abaixando a cabeça até só ver o chão, dirigia-se rapidamente para
casa. Gostava de curtir a tristeza no silêncio do quarto de menina. Nada
comentava com a mãe, pois temia que ela contasse ao pai e até já imaginava os
discursos inflamados que ele faria caso descobrisse esse segredo.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Um dia
uma menina bonita estava esperando pelo menino loirinho à saída da missa.
Bem vestida, tinha cabelos castanhos no corte da moda, e apesar da pouca
idade que aparentava ter, já estava levemente maquiada e usava lindos sapatos
brancos com um discreto saltinho. Era a primeira vez que ela via esta menina
nas redondezas. Como transcorria o mês de Maio, todas as tardes as crianças
entravam na Igreja em procissão, levando flores à Virgem Maria e, nos dias
seguintes, a novata sempre se fazia presente, levando lindos ramalhetes de
rosas vermelhas. Desde o primeiro dia em que a linda menina aparecera, o menino
que sabia latim a acompanhava após a missa.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Convenceu-se
que eram namoradinhos, mas não sentia raiva, apenas uma profunda tristeza
turvava sua visão no caminho de casa. Sabia o quanto ele estava distante,
parecia mesmo pertencer a um mundo onde ela jamais teria acesso: o mundo das
tardes dos verões ensolarados na piscina do club, dos domingos na matiné do
Cine São Carlos, das elegantes reuniões familiares nos jardins floridos e bem
cuidados, nos finais de semana. Afinal, na inocência da infância dela,
ele significava o horizonte imaginado, povoado por coisas lindas que ela não
possuía.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Pela
primeira vez se sentia diferente, alheia, e se sentiu pobre, os discursos do
pai ganharam substância e força, agora entendia essa coisa de classes sociais.
Percebia também que a questão maior não estava naquilo que se possuía, mas nos
ambientes que se frequentava. Nunca antes isso acontecera, e essa constatação
mudou sua vida, carregando-a dali para frente de uma profunda timidez.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Mas,
agora, já morando em outra cidade, pensava que se retornasse um dia, talvez
deixasse de observá-lo de longe e criasse coragem para puxar conversa. Talvez
conseguisse vencer a timidez e a sensação de inadequação. Afinal,
ele sempre lhe parecera tão educado! Talvez até se tornassem amigos. Nada havia
de mal em uma jovem ter amigos do sexo masculino. Não era amiga do Wagner, dos
irmãos Roberto e Joana, do Julião (que gostava de comer caramujos)? Havia
também o Paulo e os colegas da escola com quem fora ao cinema para ver o René
Dantas cantar. Afinal, eram todos da mesma idade e filhos de
trabalhadores, até mesmo o menino loirinho que sabia latim. A diferença estava
no fato de que o pai não lhe permitia freqüentar bailinhos e os carnavais no
club, não lhe permitia ir à piscina, pois julgava estas coisas burguesas e
inadequadas às jovens de sua idade. Bem, talvez o menino loirinho fosse
um pouco mais velho, já que cursava o Clássico, aliás, muito do seu charme
vinha daí. Ele ficava tão lindo respondendo à missa em latim!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><b><span>3
OUTROS TEMPOS, OUTRA REALIDADE</span></b><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Saindo
daí foram viver na pequena e simples cidade de Borrazópolis. Ficaram
apenas alguns meses nesta cidade e retornaram para Apucarana, onde já haviam
vivido anteriormente, mas por pouco tempo. Finalmente, em Dezembro de 1965
seguiram para outra cidade, de uma região muito distante e completamente
diferente do Norte Velho do Paraná. Aí o pai encerrou suas buscas por dias
melhores. A nova cidade de residência ainda era só poeira, matas e grandes
campos cobertos de pinheiros e gabirobas. Para o pai foi amor à primeira vista,
para a mãe e as filhas era um fim de mundo vermelho de pó ou de lama. Aí
a família se completou: sete filhas e um único filho, o caçula. E o pai, viveu
aí, feliz e realizado, junto à família, até 1986, quando faleceu, aos 56 anos.</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Nesta
nova e última cidade onde o pai viveu, ele foi trabalhar na mesma loja e com o
mesmo patrão do qual foi o primeiro funcionário, no início da década de 1950.
Depois de alguns anos, acabaria se tornando sócio da loja desta cidade. Aí as
sete filhas e o único filho cresceram. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Em 1968
a menina que ainda sentia saudades da pequena e bela cidade de Andirá, agora
era uma moça com 16 anos, ia sempre com o pai para Apucarana e, numa destas
viagens, teve que ficar aguardando por ele, na frente do prédio da Coletoria
Federal. Era uma moça bonita, alta, magra, com longos cabelos castanhos de
reflexos avermelhados e todos que passavam voltavam a cabeça para olhá-la.
Apesar de jamais ter abandonado as convicções anarquistas o pai gostava de ver
as filhas bem vestidas e bonitas. Tinha orgulho delas e quando saía em viagem
de negócios procurava sempre ter uma consigo, pois não gostava de viajar
sozinho. Por diversas vezes fora ela, a mais velha das sete filhas, que o
acompanhara. </span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Enquanto
o pai fora resolver alguns negócios, ela ficara ali na Coletoria aguardando por
documentos que ele precisava. Qual não foi sua surpresa quando parou um carro
com a placa de Andirá dele saiu um jovem que ela reconheceu na hora. Ele
dirigiu-se até ela e perguntou:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Moça
você sabe nos dizer onde fica a saída para Londrina?</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Com o
coração disparado e as pernas trêmulas ela respondeu com outra pergunta:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Seu
nome não é...</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Ele
mostrou-se espantado, pois não a conhecia e quis saber como ela sabia quem era
ele. Ela só sorriu, mas como era tímida não teve coragem para contar! Em
resposta à pergunta disse que também não morava naquela cidade e não sabia onde
ficava a tal saída. Ele voltou ao carro, virou a cabeça em direção a ela,
sorrindo, e disse:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- Moça,
eu devo estar louco para me esquecer de uma jovem bonita como você!
Afinal, de onde é que você me conhece?</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Ela
respondeu:</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>- De
Andirá, mas essa é uma longa história!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Ele
continuou sorrindo e se foi, não sem antes voltar a cabeça para olhá-la
diversas vezes!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span>Nisso,
o pai chegou para buscá-la!</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"><span><br />
(dibs.)</span><span><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
</div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-5985784581549855902016-04-21T17:59:00.002-07:002021-07-31T18:57:56.734-07:00TRANSBORDAÇÃO<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;">
Quantas solidões<br />
a solidão comporta?<br />
Não feche as<br />
portas<br />
do seu olhar<br />
desnudador de mundos.<br />
Fundos,<br />
Densos,<br />
Imensos.<br />
A água barrenta<br />
é passageira.<br />
Se faz enxurrada<br />
e segue no destempero<br />
dos temporais,<br />
brutais,<br />
Insanos.<br />
Alaga o plano,<br />
rodopia<br />
e desaparece<br />
nos sumidouros,<br />
para ser<br />
renovada<br />
pelas areias<br />
profundas e<br />
escondidas<br />
de solos de antanhos.<br />
E retorna límpida,<br />
reluzindo<br />
o sol,<br />
transbordando<br />
a lua<br />
e orvalhando<br />
brilhantes<br />
noturnos<br />
sobre<br />
as folhas e as flores.<br />
Quantas solidões<br />
os rios comportam<br />
para se transformar em mar?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><br />
(dibs).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-58293461557738431452016-04-21T17:53:00.004-07:002021-07-31T18:58:43.981-07:00 À AURORA DE TODOS OS DIAS<div><br /></div>Vesti-me de terra, <br />Transformei-me em serra, <br />Dilui-me em ar.<br />Debulhei as flores<br />Adornei a rua, <br />Dormi ao luar.<br />Fiz-me água doce, <br />Explodi-me em rio<br />Transcendi-me em mar.<br />Como pó de estrelas <br />Abracei a noite<br />Só pra lhe esperar!<br />(dibs)<div>
</div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-79489643191112646792016-04-21T17:29:00.001-07:002021-07-31T19:00:23.954-07:00ANÚNCIO<div class="WordSection1">
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: #141823;">Vendo uma casa velha,</span><span class="apple-converted-space" style="color: #141823;"> </span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: #141823;">
de madeira de lei,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
extraída da mata<br />
que cercava a cidade<br />
em tempos remotos.<br />
É de peroba rosa<br />
com vigamentos de óleo pardo.<br />
Madeira escolhida a dedo<br />
por competentes carpinteiros.<br />
Bem dividida,<br />
tem uma grande sala<br />
onde muitas festas e reuniões<br />
alegraram nossas vidas.<br />
Aí aconteceram aniversários felizes,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
natais iluminados pelos risos de crianças.<br />
Horas de descansos,<br />
horas de desalentos,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Fotografias memoráveis,<br />
encontros encantados.<br />
A velha varanda adaptada em cozinha<br />
cheira a café da manhã,<br />
pão quente, bolachas de coco, bolachas<br />
dedo-de-moça, pão de queijo, bolo de chocolate<br />
e bolinhos de chuva.<br />
Suas paredes ainda guardam o perfume<br />
dos churrascos e feijoadas<br />
dos feriados e dias de festas.<br />
Se você se demorar aí um pouquinho que seja<span class="apple-converted-space"> </span><br />
sentirá o cheirinho do arroz<br />
e do feijão do cotidiano,<br />
da polenta recheada, do macarrão ao molho branco<br />
e do pão nosso de cada dia.<br />
Aí passamos manhãs e tardes<span class="apple-converted-space"> </span><br />
preparando os bolos de inúmeros aniversários,<br />
as sopas e os caldos do inverno,<br />
e as saladas do verão.<br />
Frango frito empanado,<br />
frango desossado, assado,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
mousses,panquecas,<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: #141823;">lasanhas,<br />
manjares, pudins e outras delícias que<span class="apple-converted-space"> </span><br />
enfeitaram nossos dias.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Há também uma antiga cozinha<span class="apple-converted-space"> </span><br />
transformada em copa.<br />
Com uma mesa e oito cadeiras,<br />
já acomodou tranquilamente<br />
25 pessoas ou mais,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
e se enchia de alegria nos almoços<span class="apple-converted-space"> </span><br />
e jantares dos dias comuns.<br />
E de amigos, jogos, sorrisos e festa<br />
todos os finais de semana.<br />
Há quatro quartos,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Um deles transformado em biblioteca.<br />
Suas paredes preciosas, cercadas de estantes,<br />
carregam a história da nossa vida e aprendizagem.<br />
Cadernos de escola de nossos filhos,<br />
seus álbuns de papéis de carta,suas cartilhas e<br />
primeiros livros de leitura escolar,<br />
assim como a primeira literatura não escolar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: #141823;">Suas primeiras provas e outras avaliações.<br />
Bilhetes de amigos,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Cartinhas trocadas entre namorados,<br />
Cartões de natal,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Discos de MPB, rock, blues, jazz,<br />
de canções inesquecíveis, de histórias infantis<br />
de sons da infância, adolescência e juventude.<br />
Filmes memoráveis em VHS e em CDs.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Livros, milhares deles,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
de capas coloridas, cinzentas, pretas, brancas.<br />
De todos os matizes e cores elas escondem conteúdos que<span class="apple-converted-space"> </span><br />
nos fizeram sonhar, rir, sofrer, chorar, viajar, crescer, crer, duvidar,<br />
refletir, aprender e se transformar.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Os demais quartos guardam em suas paredes<br />
os risos e choros da infância de nossos filhos,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
os sonhos de sua adolescência,<br />
os amores de sua juventude,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
os risos de seus e de nossos amigos,<br />
e as lembranças de como cresceram e<span class="apple-converted-space"> </span><br />
e se transformaram em quem são.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Os quartos são alinhados por um corredor<br />
cujo assoalho serviu de ringue pra muita patinação infantil<br />
em meias de lã.<br />
Há um quintal que já foi de terra-chão,<br />
Foi gramado, com uma caixa de areia<span class="apple-converted-space"> </span><br />
que serviu às brincadeiras e diversões<br />
infantis.<br />
E hoje é calçado com lajotas<br />
Onde nossos passos já não ficam marcados,<br />
Mas por onde nossa essência ainda caminha,<br />
acompanhada ou não de nossa presença física<span class="apple-converted-space"> </span><br />
ou de nossa imaginação, e<span class="apple-converted-space"> </span>das
lembranças de como nos constituímos<br />
pessoas e família, nos espaços marcados<br />
por essas paredes, tanto as abertas do quintal,quanto as fechadas,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
dos cômodos interiores desta casa perene em nossas memórias e sentimentos.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Para completar, esta casa é cercada de varandas,<br />
onde descansaram nas tardes ensolaradas<br />
os carrinhos dos nossos bebês e cujos pilares<span class="apple-converted-space"> </span><br />
sustentaram o balanço de redes,<br />
nas quais crianças felizes<br />
dormiram e sonharam.<br />
Aí passaram muitas tardes<br />
em diálogos e brincadeiras com os primos,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
os amigos e os irmãos;<br />
brincaram de pique esconde,<br />
soltaram e perseguiram bolhas coloridas de sabão<br />
e ouviram histórias, sentados em cadeiras<span class="apple-converted-space"> </span><br />
de descanso.<br />
Na calçada em frente a estas varandas,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
as pétalas das flores de um lindo<span class="apple-converted-space"> </span><br />
flamboyand, coloriram e ainda colorem<span class="apple-converted-space"> </span><br />
de vermelho o caminho<span class="apple-converted-space"> </span><br />
da entrada,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
enquanto seus galhos sombreiam<span class="apple-converted-space"> </span><br />
e refrescam as tardes quentes da primavera<br />
e do verão.<br />
Ao redigir este anúncio,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
percebi que não posso mais vender a minha velha casa de madeira.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Suas paredes já não são madeira apenas,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
se transformaram em pergaminhos preciosos,<br />
cujas marcas são textos, fotografias, registros diversos<br />
da história de muitas vidas.<br />
Assim como ela nos acomodou em seu interior, confortável e solidária,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
nós assimilamos seus contornos em nossas vidas e história.<br />
Sem suas paredes plenas de memórias,<span class="apple-converted-space"> </span><br />
já não seremos os mesmos.<br />
(dibs)<o:p></o:p></span></div>
</div>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><br clear="all" style="break-before: auto; mso-break-type: section-break; page-break-before: auto;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-103503566707218992016-04-20T21:28:00.001-07:002017-10-31T11:28:46.488-07:00DO TEMPO EM QUE OS VENDEDORES DE LOJAS ERAM CHAMADOS DE CAIXEIROS<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Apesar
de pequena, a cidade onde nasci tinha um bom comércio em 1959. O principal
produto da região era o café e depois da colheita os sitiantes e fazendeiros
corriam à cidade para as compras. Era habitual que comprassem para a família e
para os agregados ao trabalho do seu espaço rural. Meu pai já era um caixeiro
da Casa dos Retalhos desde 1951.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Abrir
a loja, ajeitar os tecidos em exposição na calçada – a coluna grega organizada
com os tecidos em cascata, as peças dispostas umas sobre as outras; a rosácea
ou o labirinto confeccionados em tecidos, dispostos no teto, à guisa de
decoração; algumas peças em cores chamativas dispostas em arranjos
criativos na ponta dos balcões; máquinas de costuras
estrategicamente distribuídas no espaço interno; Rádios Pionner sobre uma
coluna central, no espaço interno, ou sobre os balcões; chão limpo sobre o qual
fora distribuída e depois varrida, uma porção de serragem úmida; o espaço do Caixa com vidros limpos,
espetos de notas organizados e um dinheirinho miúdo para os trocos do dia </span><span style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 16px;">–</span><span style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;"> compunha a rotina inicial de todas as manhãs.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">E
o dia começava com os caixeiros enrolando e desenrolando peças e medindo e
cortando pano, tanto para a decoração do espaço, quanto para compor e recompor
as bancas de retalhos que se espalhavam pelo interior da loja. As prateleiras -
que ladeavam as paredes do espaço definido por quatro grandes portas - suportavam uma imensa quantidade
de peças de tecidos simetricamente organizadas, além das caixas de chapéus
Ramenzoni e de véus e grinaldas para noivas.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Espaço
pronto, hora de buscar o freguês. Com esse objetivo sempre havia alguém
cuidando do movimento na calçada e chamando:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Vai um vestido aí patroa?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Olha só esta estampa que beleza! É o que se usa nas cidades grandes!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Vai uma camisa aí patrão? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Tricoline pura, algodão do bom, é camisa pro resto da vida!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Precisa de lençóis freguesa? Nós temos o melhor algodão da cidade! Pras
cortinas temos um chitão de boa qualidade, não desbota nem solta tinta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Vai casar a filha seu João? O melhor enxoval de noiva é com a gente! Ainda
mandamos entregar na porta de sua casa e se precisar até a costureira a gente
arruma! Pode comprar sem medo que o melhor desconto é aqui! O senhor sabe, aqui
está “a gigante da esquina do barulho”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">E
assim, com a fala específica dos caixeiros, apreendida nos anos passados atrás
dos balcões, eles ganhavam o sustento. Conheciam os macetes para comunicar de
um para outro vendedor o tipo de ação requerido pelo freguês que chegava. À
guisa de aviso, alguém dizia: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-Totonho,
olha a porta aí, rapaz. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Ao
que o Totonho muitas vezes respondia: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Preocupa não! É um picão!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-Niltinho,
atenção aí na primeira porta!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Estou atento! É um zobe observando!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Atento
à porta, Tiãozinho avisa:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Bene, o que chega na segunda porta é freguês do Nardinho. Nem tente, ele só
compra com o homem! Pode ir chamá-lo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Isso é verdade, ou você está dando uma de zequinha moura comigo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Entrando
na loja, o freguês confirmava a afirmação do Tiãozinho , pedindo pra falar com
o Nardinho!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Lele, aquele que está atravessando a rua vai
comprar. Deixa comigo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Como assim, deixa com vc? Eu estou desocupado! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Mas você ainda não sabe vender, é aprendiz! E eu vi primeiro! Deixa comigo que
o caso é especial!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> - Pedrão, olha a segunda porta! Tem burguês
chegando! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> E o
Pedrão prognosticava: - Hoje ganho o dia só com este! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Algumas
vezes uma senhora tímida e relutante apontava na porta buscando por um rosto
feminino entre os caixeiros. Como não encontrava, dirigia-se ao primeiro que
encontrava desocupado:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Por favor, será que o senhor tem menina-moça? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
menina-moça, menina-moça, menina-moça.....hummm ...deixa eu ver! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Sem
saber do que se tratava e com vergonha de o dizer, o caixeiro perguntava: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
É pra senhora? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Rubra,
sem jeito, mas não entendendo que o vendedor não sabia o que era o tal
menina-moça, a senhora exclamava: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Não, benza-Deus! É pra minha filha! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Resposta
que não acrescentava muito como informação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Desesperado
o caixeiro se socorria com a jovem do Caixa: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-
Dona Zulmira, eu não consigo me lembrar se nós temos menina-moça. Temos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">-Temos
sim, Totonho. Os soutiens menina-moça estão na gaveta de peças femininas! Pode deixar que eu atendo a
senhora!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">E
um envergonhado Totonho aproveitava a deixa de Dona Zulmira para transferir-lhe
a tarefa de mostrar as peças femininas à senhora. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Lá
pelas dez horas da manhã o espaço fervilhava de fregueses escolhendo tecidos,
rádios ou máquinas de costura, ou pais comprando o enxoval da filha. E se havia
mais fregueses que vendedores as jovens do Caixa e do escritório
também vinham ajudar no balcão. E o espaço fervilhava até aproximadamente às
doze horas, quando, como se houvesse um acordo tácito, os fregueses
desapareciam com seus pacotes e sacolas de compras e havia um relaxamento no
ritmo frenético dos caixeiros, até, aproximadamente às quatorze horas, quando
começava o segundo turno! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Os
gestos e palavras utilizados faziam parte de uma linguagem cifrada, comum entre
os “caixeiros” da época, inocentes palavras, códigos do balcão. Não havia
maldade nem pretensão de outra natureza,
que não fosse a de manifestar o conhecimento da malícia considerada necessária
à profissão. Um jeito de falar só reconhecido pelos “iguais”. Quando ouviam os
avisos, os rostos escondidos atrás das peças de pano riam intimamente, naquela
espécie de vingança de quem estava sempre exposto às veleidades do freguês. E
assim foi até final de 1964, quando os caixeiros foram assumindo lentamente a
denominação de balconistas e as
informações cifradas trocadas entre um
vendedor e outro, à respeito de um “ freguês”, foram desaparecendo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-17485057832527061612016-04-19T19:27:00.001-07:002016-04-19T19:29:24.989-07:00AD AETERNUMOs tempos são como garras.
Apertam, ferem, cortam, separam.
Mas nem assim seu olhar se foi do meu.
(dibs)
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-13791671190246570742016-04-19T19:17:00.005-07:002016-04-20T06:33:45.733-07:00UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA<br />
<div class="" data-block="true" data-editor="6d2kn" data-offset-key="72edh-0-0" style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="72edh-0-0" style="direction: ltr; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; position: relative;">
<div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">
<span style="background-color: transparent;">Meus amigos mais chegados costumam dizer que eu sou uma pessoa tranquila e ponderada. Por isso muitos manifestaram seu estranhamento sobre as postagens que fiz no facebook nesses dias conturbados. Além da tranquilidade e ponderação que me atribuem os amigos, as situações que vivi me permitiram desenvolver um senso de justiça acentuado. Considero que qualquer ação injusta, seja contra quem for, é digna da nossa manifestação. Como disse Montesquieu “ A injustiça que se faz a um é a ameaça que se faz a todos". Penso que seja este senso de justiça que me faça perder a tranquilidade em situações como a que vivemos hoje na política brasileira. E, não, não sou filiada a nenhum partido político, embora isso não me isente – nem proíba – de defender as ideias nas quais acredito. </span></div>
</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
O que meus amigos talvez não saibam, ou não se recordam, é que além de Pedagoga eu também sou historiadora e minha área de pesquisa é História Política (e Religiosa) da América Latina e do Brasil - tema sobre o qual me debruço cotidianamente desde 1995. Já produzi um livro sobre o assunto, resultante da minha tese de doutoramento. O livro foi publicado pela Nova Edições Acadêmicas, na Espanha, e está disponível, pela Amazon e pela Barnes e Nobles, em diversos países, exceto no Brasil. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Compreendo perfeitamente que essa experiência não me torna dona da " verdade", e jamais o pretendi, no entanto, certamente que me dá alguma competência sobre o assunto. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Nesta obra pesquisei também a organização dos partidos políticos brasileiros desde os seus primórdios, o que me permitiu constatar que apenas três agremiações partidárias do Brasil constituem o que se pode considerar Partido Político. Estes três partidos brasileiros são os únicos que se organizam a partir de uma ideologia à qual seus membros são fiéis e que tem o povo brasileiro e o país como norte para suas práticas políticas. Todos os demais se organizam em vista dos interesses econômicos e financeiros de seus membros, tendo por meta o poder pelo poder e o que isso significa na aquisição-manutenção do status quo. São políticos profissionais por interesses próprios, nenhum deles tem o país, a nação, o povo como fonte de inspiração para o exercício da política e do poder. O povo só conta como massa de manobra, pois dele extraem o voto que elege! De resto, durante o exercício do poder, para a maioria dos membros destes grupos políticos, o Brasil é um país sem povo! Não é possível deixar de observar esse fenômeno.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
No final de 2013 eu comentei com amigos e familiares que havia um golpe sendo gestado na política brasileira com o objetivo de acabar com o partido político no poder – no caso, o PT. E fui colecionando e avaliando notícias, dos mais variados meios de comunicação. Ninguém acreditou em mim, disseram que eu estava lendo muita “teoria da conspiração” e vendo conspiração onde nada havia. Desde que começaram a plantar notícias e vazamentos sobre o ex-presidente Luiz Inácio (e a forma como o fizeram) tive certeza de que havia um golpe em andamento e que os vazamentos visavam neutralizá-lo, acabar com ele, pois apesar de toda desconstrução de sua reputação ele ainda era muito considerado pelos trabalhadores. Na sequência apareceram as denúncias sobre a Petrobrás e a presidente. Há um aspecto muito interessante na nossa sociedade atual: é o fato de que a pecha de corrupto cola indelevelmente em alguns, mesmo sem qualquer comprovação do fato denunciado, mas não cola em outros, mesmo com a competente e abundante comprovação do fato denunciado. E o golpe finalmente foi revelado em toda a sua sordidez e está em andamento. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Sou cidadã brasileira, exerço todas as minhas obrigações e não me furto a exercer os meus direitos e tenho lado, pois não acredito em neutralidade. Não vou dizer que sou “a favor da verdade”, porque a verdade se transformou num critério subjetivo. Concordo em gênero, número e grau que nossa atual presidente errou ao propor um programa de governo durante a campanha e executar outro, muito distante daquele prometido. Isso foi uma traição aos princípios pelos quais ela foi escolhida. (Mas também é impossível esquecer que desde o primeiro dia do seu segundo mandato ela tem sido impedida de governar por aqueles que não aceitaram perder as eleições pelo voto).</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
No entanto, isso não justifica um golpe de estado dado pelo conluio entre a mídia, parte da classe jurídica, a elite econômica, os grandes conglomerados industriais e os interessados em repartir com o mundo as jazidas de petróleo e gás brasileiros. É situação muito grave para o futuro do país, principalmente se considerarmos que pairando sobre isso tudo há o apetite insaciável do grande grupo de corruptos e corruptores instalados no congresso nacional e que quer safar-se das punições via Lava Jato, dentre outras investigações em andamento. Os grandes capitalistas também querem se livrar dos custos sociais do contrato de trabalho, por isso desejam a terceirização total do sistema, o fim da CLT, bem como o fim do décimo terceiro salário, do sistema de aposentadorias via INSS, enfim, uma revisão para menos de todos os direitos dos trabalhadores. A minimização dos custos sociais para a maximização dos lucros capitais. Com o atual governo isso não aconteceria da forma abrangente como pretendem, então se organizaram para derrubá-lo. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Também não concordo com o circo midiático que virou a Lava Jato, não concordo com a culpabilização única e exclusiva do ex-presidente Luiz Inácio e de sua família via sofismas articulados por mídias que estão com os pés na cova e dependem de financiamentos de um governo (generoso financeiramente) que lhes seja favorável. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Se no ex-presidente e em seus familiares houver culpa que demonstrem cabalmente, com provas concretas e irrefutáveis, mas não podem destruir a reputação das pessoas via disseminação de desconfianças infundadas. Não concordo que ao investigar os crimes de corrupção os ilustres responsáveis pelas tais operações queiram passar uma borracha naqueles crimes - provados, comprovados e documentados - que antecedem os governos Lula e Dilma, com a reles desculpa de que estão prescritos. Não é verdade. Esse tipo de crime não prescreve, dizem juristas de reconhecido saber e competência. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Não é uma questão de tomar partido em função do partido político dos personagens envolvidos, tampouco em função dos próprios personagens. Não creio em mitos, não tenho ídolos. Admiro sim alguns personagens de nossa história recente, mas sem a mitologização dos mesmos e sem a insensatez da idolatria. O caso atual é uma questão de justiça e injustiças. Não é justo, não é correto, não é ético, não é moral o que estão fazendo. Além do mais, não se pode jogar no lixo mais de 54.000.000 de votos, sem causas plausíveis. O circo visualizado domingo na câmara comprovou o que tento dizer. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Entendo que nos defrontamos com grupos políticos que querem apear a presidente do poder para apropriar-se dele, em conluio para livrar a pele de renomados corruptos, e para fazer valer as propostas políticas de grupos econômicos/financeiros interessados em destituir o país da política de nacionalização de alguns recursos naturais e de específicas tecnologias. Um Brasil grande e forte economicamente colocaria em risco conhecida hegemonia. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Isso me parece muito claro e distinto para quem não se contenta em informar-se pelo Jornal Nacional, Folha, Estadão, Veja e congêneres. É preciso cruzar dados das diversas fontes de informação para construir o próprio entendimento, sem deixar-se contaminar pelos que se denominam “ formadores de opinião”. A denominação “ opinião” já traz embutida em si o grande problema. Como diziam os gregos, há a “doxa” e a “episteme”. A palavra “doxa” equivale a opinião ou conhecimento de senso comum, e a “ episteme” corresponde ao conhecimento (ou Ciência). “O termo grego encerra a significação de uma certa noção de julgamento e sentimento, no sentido de resolução e decisão parcial, baseada unicamente nos dados presentes. Isso implica que doxa é compreendida como um certo juízo subjetivo que tem valor apenas momentâneo, um juízo que não poderá ser referência ética, pois tem presente a possibilidade da falsidade das crenças que suportam a ação. Sob a mesma perspectiva [...] a episteme é vista como uma techné, uma habilidade para fazer algo, um tipo de saber que tem seu suporte no conhecimento especializado e preciso da coisa. (Franklin, Karen. Os conceitos de Doxa e Episteme como determinação da ética em Platão. Educar em Revista, num.23, 2004, p.334.Universidade Federal do Paraná)” . </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Como todo historiador não me contento em repetir o que todos repetem sem buscar outras e mais aprofundadas informações sobre a realidade dos fatos e processos históricos. Preciso vasculhar textos e dados, analisar discursos, comparar informações para só então considerar as possibilidades de que sejam ou não verdadeiros e/ou legítimos os fatos/processos apontados, ou narrados. Isso é mais difícil do que acreditar em todo e qualquer “formador de opinião”. Mas é assim que escolho fazer. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
É isso que penso e sinto muito se a minha forma de pensar destoa daquilo que meus amigos esperavam de mim. Mas não perdi a tranquilidade ou a ponderação no que se refere ao respeito pelo direito de quem quer que seja de ter entendimentos divergentes dos meus – continuo respeitando os entendimentos de quem quer que seja – no entanto, se meus amigos realmente me conhecem, sabem que eu jamais deixaria de dizer o que penso para agradar ou satisfazer a quem quer que seja. Seria falso de minha parte proceder assim, já que não sou assim. Considero que sobre a ética e a justiça não se tergiversa.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
Abraços a todos. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<br /></div>
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; text-align: justify;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "helvetica neue light" , , "helvetica neue" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; text-align: justify;">Dirce</span>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-85640310744735501132016-04-19T18:09:00.002-07:002016-04-19T18:09:22.128-07:00TEMPO<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Há quanto tempo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Nem sei mais!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Só sei que<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Passei este tempo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Sentada na sala<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> A sua espera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Contei todos os minutos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Acompanhando os ponteiros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> No relógio de parede.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Fiz o jogo de sempre<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Somando e subtraindo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Os números nos marcadores<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> De horas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Quando me parecia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Que uma eternidade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Havia decorrido,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Ouvi seus passos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12pt;"> Na minha imaginação.<o:p></o:p></span><br />
<div>
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
</div>
Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-91587178002031942282012-07-12T20:03:00.000-07:002012-07-27T08:30:36.773-07:00<br />
<div class="MsoNormal">
Tudo em mim é vago e vaga, </div>
<div class="MsoNormal">
Tempo, espaço, chuva,
sol </div>
<div class="MsoNormal">
Terra, mar e ar. </div>
<div class="MsoNormal">
Nau sem bussola, </div>
<div class="MsoNormal">
Nau sem âncora.</div>
<div class="MsoNormal">
</div>Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-55297438696245643532011-03-06T19:03:00.000-08:002016-04-19T16:18:24.004-07:00PAI<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqGob1hUFcs_sk7ezc9Yy79D8PbI1SzB8KTL9DgVpfg7T9sugAVwE86Q_Zjsdx5_MxE7nJMLkFXdFtXD8KrPOwtMoNLUX9x5FXdjQHx9TuDRqHfz0CVwhsVYvgqfn6T40_C7fKqRCrrg4/s1600/Platina.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="206" width="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqGob1hUFcs_sk7ezc9Yy79D8PbI1SzB8KTL9DgVpfg7T9sugAVwE86Q_Zjsdx5_MxE7nJMLkFXdFtXD8KrPOwtMoNLUX9x5FXdjQHx9TuDRqHfz0CVwhsVYvgqfn6T40_C7fKqRCrrg4/s320/Platina.jpeg" /></a></div>( esta fotografia foi copiada do site da cidade de Santo Antonio da Platina, que hoje já foi modificado. Não sei quem é o autor da fotografia, por isso não pude citá-lo). <br />
<br />
Pai, é a Platina, eu sei que você se lembra bem.<br />
A mesma rua que a foto extraiu ao tempo<br />
A esquina é conhecida, para o bem e para o mal.<br />
Foi sua vida, foi sua morte também.<br />
As bocas malditas que hão de apodrecer no inferno<br />
disseram que fomos nós, <br />
Suas filhas!<br />
Mal sabem que fomos, cada uma e todas, <br />
os motivos de sua vida.<br />
Aí foi sua via dolorosa.<br />
A nossa também.<br />
Mas era difícil nos abater<br />
Se estávamos juntos.<br />
<br />
Sonhamos juntos os mesmos sonhos,<br />
Dialogamos feito amigos,<br />
Bebemos vinhos festivos, <br />
Cervejas amargas,<br />
Cantamos e trabalhamos<br />
comemorando a vida.<br />
Juntos sempre,<br />
na alegria e na tristeza.<br />
Unidos como poucos pais e poucos filhos.<br />
Esperamos a mesma esperança,<br />
que um dia se realizou<br />
na chegada do oitavo de nós.<br />
Ele veio pra apoiar sua cabeça<br />
No último minuto e pra ficar conosco,<br />
Presente como você sempre esteve,<br />
E como o presente que foi e que é, <br />
pra você e pra nós. <br />
<br />
A máquina que parou o tempo<br />
certamente é uma Kodak antiga.<br />
Não dá para saber se o panorama é da janela <br />
ou se é o enquadramento da velha máquina. <br />
A rua ainda é a mesma e eu volto a ter cinco anos.<br />
Saio de casa de mansinho, gosto das ruas, gosto da cidade. <br />
O cheiro de terra branca, arenosa, logo depois da chuva, é<br />
uma tentação e tanto. <br />
Nem sei se vou com pés descalços, nem sei se estou vestida... <br />
eu tinha o hábito de fugir de casa só de calcinhas.<br />
Criança é criança...<br />
A gente vê o mundo, não sabe das convenções,<br />
E o mundo é bonito de se ver!<br />
A cidade era assim, que nem eu... criança.<br />
Dos meus pequenos olhos, na minha baixa estatura, tudo era grande e lindo.<br />
A loja era um mundo escuro, cheio de gente estranha. <br />
A vitrine interna era o grande sonho de consumo,.<br />
Bonitos tecidos pra um vestido, véus para noivas...<br />
Um chapéu Ramenzoni pro avô Pedro,<br />
Um rádio...imenso, uma caixa de madeira falante.<br />
No outro lado da rua o “ Bar do Ponto”... a rodoviária cheia de jardineiras.<br />
- “ O pai taí”?<br />
- “ Quem é seu pai menina?” <br />
- É filha do “ Nardo” , ali dos Retalhos.<br />
- Ce ta fugindo menina” ?<br />
- To não, o pai e a mãe vão pra Bocaína e eu quero ir também!<br />
- O tio vai casá moço” !<br />
- Ali minha mãe !<br />
- Manhêee!<br />
Lembra seu espanto ? <br />
E a jardineira partiu... eu só de calcinhas e pra seu desgosto, de pés no chão.<br />
Ah pai, mais a trouxinha de roupa eu lembrei de fazer!<br />
<br />
A foto é mágica!<br />
Ela volta o tempo e você volta também.<br />
Eu tenho novamente cinco anos<br />
E fico na expectativa de que se eu olhar bastante<br />
Você sairá na porta da Casa dos Retalhos<br />
pra me ver.<br />
Não ligue se eu estiver só de calcinhas e pés descalços<br />
Ainda sou criança e nem sei se quero crescer!.Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-34802456991065997442011-03-06T18:22:00.001-08:002012-07-25T09:44:25.499-07:00As horas são silenciosas e traiçoeiras e passam por mim enquanto eu corro em busca de mil soluções para o milhão de problemas com os quais me deparo todas as manhãs. Por mais cedo que eu me ponha a correr nas múltiplas direções do meu caminho, há alguém a minha espera pleno de necessidades que não poderei satisfazer. Os olhos que me olham ora indagam, ora acusam, ora tentam desnudar-me a alma em busca da resposta pretendida a um desejo não satisfeito. Quando me é permitido pensar o dia, ele já se foi e está próximo a retornar e, no interstício de sua ausência, nem sequer me resta tempo para renovar-me.Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-53223267851625337212011-02-19T20:24:00.000-08:002016-04-19T16:31:26.915-07:00DIÁLOGOS ENTRE VERSOS.A vida é quem nem sassafrás<br />
Ardida, difícil, um antraz.<br />
Amor e esperança nos traz<br />
Traiçoeira que nem Alcatraz<br />
<br />
Gosto de tomar xerez,<br />
Trago tudo de uma vez,<br />
Me cuido com a embriaguez,<br />
Quero ir trabalhar em Suez.<br />
<br />
Caminhos de flores senis, <br />
O muro escuro de verniz,<br />
Corri o dedo pelo nariz,<br />
E senti que a vida era um triz.<br />
<br />
Mordi o meu pão com jiló,<br />
Lembrei do coitado do Jó,<br />
Calei o meu lado filó,<br />
E na espera senti que era só.<br />
<br />
Mandei as crianças pro Sul,<br />
E achei o céu bem mais azul,<br />
Atolei o pé no murundu,<br />
Salvou-me um antigo tabu.<br />
<br />
A vida é que nem sassafrás,<br />
Gosto de tomar xerez,<br />
Caminhos de flores senis,<br />
Mordi o meu pão com jiló,<br />
Mandei as crianças pro Sul.<br />
<br />
Ardida, difícil, um antraz<br />
Trago tudo de uma vez,<br />
O muro escuro de verniz<br />
Lembrei do coitado do Jó,<br />
E achei o céu bem mais azul.<br />
<br />
Amor e esperança nos traz<br />
Me cuido com a embriaguez<br />
Corri o dedo pelo nariz<br />
Calei o meu lado filó<br />
Atolei o pé no murundu.<br />
<br />
Traiçoeira que nem Alcatraz.<br />
Quero ir trabalhar em Suez,<br />
E senti que a vida era um triz<br />
E na espera senti que era só,<br />
Salvou-me um antigo tabu.<br />
<br />
A vida é que nem sassafrás,<br />
Trago tudo de uma vez<br />
Corri o dedo pelo nariz<br />
E na espera senti que era só...<br />
<br />
Gosto de tomar xerez<br />
O muro escuro de verniz<br />
Calei o meu lado filó<br />
Salvou-me um antigo tabu.<br />
<br />
Caminhos de flores senis<br />
Lembrei do coitado do Jó<br />
Atolei o pé no murundu.<br />
<br />
Mordi o meu pão com jiló<br />
E achei o céu bem mais azul !Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2988196449613954749.post-12076812077774969722011-02-19T20:06:00.001-08:002011-02-19T20:11:00.767-08:00HOJEA expressão do teu silencio<br />
Amordaça meu pensamento<br />
Que se afoga no grito já passado<br />
Da minha dor antiga. <br />
<br />
O som introvertido da sua ira<br />
Salta através do tempo <br />
e cai no meu presente pleno de ausências.<br />
<br />
Seu olhar passado sibila<br />
sobre o nada a minha volta<br />
E regressa<br />
Refletindo o desalento,<br />
da minha dor sempre nova. <br />
<br />
Renovo o estoque de mim mesma<br />
Tocando o dedo, fundo, na ferida<br />
Para não esquecer da solidão.Dibs.http://www.blogger.com/profile/02057732642619671494noreply@blogger.com0